quinta-feira, 13 de junho de 2013

Bullyng

Algumas reportagens sobre o BULLYNG

O bullying e a orientação educacional

Anita Maria Lins da Silva*
Bullying, sinônimo de agressão moral, física, psicológica. Palavra não traduzida para a língua portuguesa, mas facilmente entendida por se tratar de um fenômeno crescente da sociedade brasileira: a violência. Mas só brasileira? Não, as vítimas e seus algozes estão espalhados pelo mundo inteiro e em várias culturas. Envolve relação de poder e mando. A conseqüência é que as vítimas também acabam se tornando agressores. Mas, então, o que fazer visto que as proporções estão gritantes? A escola tem enfrentado todo tipo de violência envolvendo alunos, pais e professores e deve contar com um importante segmento para ajudar na questão: a orientação educacional.
O enfoque da orientação educacional tem mudado no decorrer de sua história, no início com vistas à profissionalização, passando por várias abordagens e possibilidades diagnósticas com ações interventivas. Hoje, após várias reflexões, estamos caminhando para um conceito menos clínico-terapêutico e mais social. O orientador com uma visão mais ampla e sistêmica dos problemas sociais e da violência lança seu olhar sobre o todo: a família, sala de aula e sociedade: age no sentido de ajustar as suas práticas na prevenção, distancia-se do imediatismo e dos “incêndios” do dia-a-dia na escola.
No caso do bullying, a orientação educacional atua conjuntamente com o pedagógico e famílias, sempre levando em consideração que sanções e limites não são suficientes, ou mesmo a identificação das causas do baixo rendimento escolar e encaminhamentos para áreas afins: a violência vai além de tudo isso, enfraquece, desestimula, entristece. O orientador deve desenvolver projetos que visem à mudança de paradigmas, trabalhar no sentido de formar, informar, valorizar os atos de respeito ao próximo, a elevação da auto-estima e do amor. É preciso fortalecer as relações e os vínculos de afeto na escola e família, mesmo que algumas delas não sejam a que idealizamos.
Receita pronta? Não. A luta contra o bullying é um grande desafio, possível numa junção de esforços. O orientador educacional – profissional qualificado não somente em ajustar o aluno a regras e normas sociais – se vê envolvido na tarefa de promover o bem-estar, mas isso deve ser feito sem ingenuidades ou pretensões, o problema já está instalado, o real é muito mais comprometedor e abrangente, envolve sistema e política, educação versus capitalismo. Mas vamos esperar mudança para agir? Quem sabe agindo no micro algo grandioso possa acontecer?
*Orientadora educacional da EC 203 – Santa Maria (DF)
Prevenção é o melhor caminho contra o bullying









Quem não conhece casos de estudantes tímidos, intimidados pelos alunos mais fortes e desinibidos da escola? A menina gorda, que carrega o apelido de baleia; o garoto de óculos, conhecido por quatro olhos; o magrinho, que é chamado de palito... São muitos os exemplos de atitudes agressivas, que ocorrem na escola, que podem causar sofrimento e angústia. Essas situações não são novas, existem há muito tempo, mas foi somente a partir da década de 70 que começaram a ser estudadas com atenção, por pesquisadores de diferentes países, como integrantes de um fenômeno chamado bullying.
No Brasil, uma das pioneiras nessa área é a doutoranda em ciências da educação, Cleo Fante, que já atuou em escolas públicas e particulares do Estado de São Paulo como professora de história, geografia, e ética e cidadania. Ela explica que o bullying (do inglês bully, que significa valentão, brigão etc) é um fenômeno encontrado nas relações entre pares, em especial entre estudantes. “Na prática, acontece quando um estudante ou mais, de forma intencional, elege como alvo outro (ou outros) contra o qual desfere uma série de maus-tratos repetitivos, impossibilitando sua defesa,” diz a pesquisadora.
Com dez anos de experiência no estudo do bullying no país, ela criou o programa antibullying - Educar para a Paz -, já implantado em diversas escolas do Brasil e de Portugal. “Posso afirmar que é um fenômeno que cresce assustadoramente na medida em que, as vítimas, quando não atendidas, acabam reproduzindo a vitimização, na maioria dos casos,” salienta.
O problema pode ter inúmeras causas. A pesquisadora aponta, entre elas, os modelos educativos familiares, como o autoritarismo, a permissividade, a ausência de limites e afeto, e o abandono. Além disso, cita também fatores como a influência da mídia, principalmente por meio de programas e filmes violentos, e a influência cultural, onde o egoísmo, o individualismo e o descaso com o outro colaboram para a falta de empatia, compaixão, intolerância e respeito.
O bullying pode ocasionar sérios problemas, dependendo da gravidade e do tempo de exposição aos maus-tratos. “As vítimas podem ter seu processo de aprendizagem comprometido, podendo apresentar déficit de concentração, queda do rendimento escolar, e desmotivação para os estudos, que podem resultar em evasão e reprovação escolar”, ressalta Cleo Fante. As consequências podem atingir também o processo de socialização, causando retraimento, dificuldades no relacionamento e na tomada de inciativa e decisão. Os problemas podem atingir até a saúde das vítimas, desencadeando diversos sintomas e doenças de fundo emocional, como dores de cabeça e de estômago, febre, vômitos, alergias, fobias, depressão etc.
Segundo Cleo Fante, o mínimo que as escolas podem fazer é discutir o problema com a comunidade escolar, alertando estudantes, pais e profissionais para essa forma de violência e diferenciando-a das brincadeiras habituais e de indisciplina. “Porém, a prevenção é o melhor caminho e esta deve ser iniciada pelo conhecimento”, sustenta a pesquisadora. Ela alerta, ainda, para a ocorrência de um novo fenômeno: o ciberbullying, que é a forma virtual de praticar bullying, utilizando a internet.
Lei contra o bullying em Pernambuco - Medidas de combate ao bullying deverão ser incluídas nos projetos pedagógicos das escolas públicas e particulares de Pernambuco. Uma lei, nesse sentido, foi sancionada em dezembro de 2009 pelo governador Eduardo Campos.
(Fátima Schenini)

Escola e família se unem contra o bullying

Alunos e familiares fizeram cartazes contra a violência
Alunos e familiares fizeram cartazes contra a violência
O projeto Unidos no combate da prática do bullying – jornal, literatura, comunidade e cidadania, uma grande parceria!, desenvolvido em 2008 e em 2009, foi um dos vencedores da quarta edição do Prêmio Professores do Brasil. Ele atingiu, inicialmente, os alunos do primeiro ano do ensino fundamental da Escola Municipal Neil Fioravanti - Centro de Atenção Integral à Criança e Adolescente (Caic). Mas acabou por integrar toda a escola, as famílias dos estudantes e a comunidade.
“Sempre fui consciente de que a educação é papel de todos. Não se pode pensar no envolvimento dos pais apenas nos momentos de reuniões para apresentação de resultados bimestrais e, sim, integrá-los no início, meio e fim do caminhar pedagógico”, salienta a professora. O primeiro passo foi apresentar o projeto aos pais e à equipe pedagógica, para esclarecer questões a respeito do objetivo do trabalho e ressaltar a importância da colaboração de todos para o êxito do trabalho.
Uma das atividades que reuniu alunos e seus familiares foi a confecção de cartazes contra a violência, que foram depois colados por toda o colégio. As famílias também participaram da criação de reivindicações contra a violência na escola, que foram encaminhadas aos responsáveis pelo Projeto Político Pedagógico (PPP) e à Secretaria Municipal de Educação de Dourados (Semed), para que, caso haja interesse, articule o programa da Neil Fioravanti com as demais escolas da rede do município.
O projeto trabalhou os diferentes conteúdos de modo interdisciplinar. Na área de língua portuguesa, por exemplo, foram explorados textos conhecidos da literatura infantil, como O Patinho Feio e A cigarra e a Formiga, e notícias de jornal, visando confrontar a ficção e a realidade no que se refere ao relacionamento humano. Os alunos reescreveram as histórias e encenaram uma peça de teatro - A Cigarra cantora e a formiga solidária. Em ciências, por meio do estudo do corpo humano, houve a valorização das características físicas de cada um e o respeito à diversidade.
De acordo com Cristina, as leituras, bem como as demais atividades desenvolvidas em parceria, forneceram suportes para que pudessem ir da reflexão à ação. Assim, aos poucos, foram revistos alguns conceitos que provocaram mudanças, positivas, nas atitudes. E as brigas, que eram constantes, diminuíram. “Quando ocorrem, os próprios alunos causadores repensam automaticamente, revendo suas atitudes e se “autopoliciando”, analisa a professora. Outro efeito positivo foi o aumento na interatividade da turma, que se tornou mais solidária.
Jornal da Cidadania – Para registrar e divulgar o que aprendeu sobre o combate ao bullying, a turma criou o Jornal da Cidadania, distribuído às famílias e à comunidade. "Procuramos conscientizar os leitores da importância da justiça, da ética e da colaboração para uma boa convivência. Também integramos mensagens reflexivas ligadas à paz, ao respeito e a valorização da diversidade”, explica Cristina.
(Fátima Schenini)

A constatação de que a escola tem sido palco para a prática de bullying, embora seja um local de suma importância na vida das pessoas, levou a Cristinas Lins, de Dourados (MS), à criação de um projeto para auxiliar no combate a essa prática que inclui comportamentos agressivos e antissociais.
Fonte: Portal do Professor