segunda-feira, 1 de junho de 2015

EDUCAÇÃO INCLUSIVA E A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

                                                      Cátia Maria Armelin Peruzzo[1]
Nilva Michelon[2]


RESUMO                                                       

Este artigo tem como objetivo enfatizar a importância da função do orientador educacional no contexto da educação inclusiva. Deve-se, também, identificar métodos eficazes para compreender a necessidade desse profissional no processo de inclusão na escola. A legislação vigente garante as pessoas com deficiência o direito de frequentar a escola regular, a fim de terem uma formação integral, desenvolvendo a socialização e a aprendizagem. A escola inclusiva não faz diferença entre os seres humanos, não seleciona ou exclui com base em julgamentos como “normais ou anormais”. Ela oferece condições e oportunidades, livre de preconceitos, de conhecer, aprender, viver e ser. No entanto, atualmente muitas escolas formais, em função da comodidade, oferecem um universo de padronizações ao promover a construção de conhecimentos com pouco significado, pronto, sem flexibilidade e relação com a diversidade. É importante a escola oportunizar vivências capazes de desconstruir a realidade do igual, da repetição, para valorizar a diferença, apostando na diversidade. A metodologia baseou-se em referenciais bibliográficos.

 PALAVRAS-CHAVE: Orientação. Escola. Inclusão.  Aluno.

[1] Pós-Graduanda no curso de Especialização em Orientação Educacional pela FASFI – Faculdade São Fidélis. E-mail: profecati@gmail.com
[2] Especialista em Administração e Orientação Educacional, Tecnologias da informação e da Comunicação no Processo de Aprendizagem e Mídias na Educação. Docente e Orientador da FASFI. E-mail: nilvamichelon@yahoo.com.br
  
INTRODUÇÃO

            Pensar educação inclusiva é refletir sobre a função de cada profissional da escola e no desafio que esta tarefa exige. Incluir não significa matricular e aceitar em sala de aula, mas favorecer o educando como um todo construindo uma rede de apoio entre alunos, docentes, gestores, supervisores, orientadores, famílias e profissionais habilitados que atendem as crianças com Necessidades Educacionais Especiais. Neste sentido o orientador educacional pode ser o mediador nesta rede e fazer com que a Inclusão aconteça de fato.
 Frangella afirma que:
Ainda hoje a visão do que vem a ser orientação estão atreladas aos significados construídos historicamente: a de um profissional que atua sobre o outro. Esta visão ainda tão presente no cotidiano escolar, indica uma hierarquização do trabalho a partir da condição de ser possuidor ou não de alguns conhecimentos. Neste modelo o orientador, ao se debruçar sobre este cotidiano em desenvolvimento analisa-o e o altera, como só ele fosse capaz de enxergar as dificuldades encontradas e de propor alternativas a elas. (2009, p.3)
O objetivo da realização deste estudo é contribuir para uma reflexão acerca da importância do papel do orientador educacional no contexto da educação inclusiva na escola formal.  Propor elos entre os diferentes públicos, fortificando a diminuição das diferenças e do preconceito. Buscam novas alternativas que facilitem a convivência entre os públicos envolvidos, garantindo uma educação de qualidade a todos.
A visão, ainda, em algumas escolas, está equivocada a respeito desta temática, por falta de conhecimento, informação ou por comodismo, o que faz com que rotulem o diferente, ou aqueles que não se adaptam a padrões preestabelecidos pela instituição.
Segundo Morin (1989, s/p.), “é preciso proteger o desvio apesar das forças institucionais para reproduzir as “padronizações”“. Nesta perspectiva, para favorecer os “desvios” é necessário criar espaços de discussão, de observação das diferenças, de criação de estratégias pedagógicas e espaços de escuta, percebendo que cada ser é único e não mais uma peça robotizada da sociedade.
Tendo como metodologia referenciais bibliográficos, buscou-se nos livros, revistas e publicações online o enriquecimento da pesquisa. Segundo Cervo, Bervian e da Silva (2007, p.61), a pesquisa bibliográfica “constitui o procedimento básico para os estudos monográficos, pelos quais se busca o domínio do estado da arte sobre determinado tema.” Utilizou uma pesquisa descritiva. Pesquisa descritiva para Cervo, Bervian e da Silva (2007, p.61), este tipo de pesquisa ocorre quando se registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos, sem manipulá-los (CERVO; BERVIAN; DA SILVA, p. 79, 2007).


2 A IMPORTÂNCIA DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NO PROCESSO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Para avançar na questão da inclusão é preciso romper antigos paradigmas e criar um sistema educacional com estruturas de apoio aos professores, pais e alunos. Por esse motivo o orientador educacional é um facilitador e mediador para a compreensão e a aceitação do processo de inclusão, na escola formal.
Esse profissional tem um papel significativo no que diz respeito à escola, principalmente em situações inclusivas diárias, orientando no momento da adaptação do aluno incluso, orientando o professor para que este consiga interagir com o aluno e sua família, entre outras situações. Atua como facilitador na busca por soluções mais eficazes dentro desse contexto, viabilizando o processo de ensino aprendizagem.
Inclusão implica mudança, tanto na sociedade quanto na escola. Na escola perpassa o ambiente físico, passando pelo currículo, pelo planejamento do professor, pelas estratégias da coordenação pedagógica, da comunidade escolar e pelo Projeto Político Pedagógico que deve ser estudado, refletido, reestruturado e adaptado constantemente.
            Valorizar a individualidade e a dignidade de cada ser humano que “traz em si a unidualidade ordinária.” (MORIN, 2001, p.52) e é “[...] uma pessoa única, isto é, todos somos diferentes, diversos em nosso próprio meio, seja este qual for”. (IMBERMÓN 2000, p. 82). Essas vivências são articuladas pelo orientador educacional.
Um dos grandes desafios da educação inclusiva e, também, um dos grandes desafios da atualidade é desenvolver no ser humano, a capacidade de ingressar num mundo compartilhado. Na mesma direção, afirma Laszlo (1999, p. 36), “A vida é uma íntima rede de relações que traz consigo uma miríade de diversos elementos interagindo uns com os outros”. Expressões como, compartilhar, o que é tecido junto, comum a todos, coletividade, acessibilidade e interdependência começam a ser indispensáveis para o desafio de efetivar uma educação inclusiva.
O indivíduo com deficiência da mesma maneira que qualquer outro indivíduo terá um desenvolvimento mais pleno quanto mais oportunidades lhe forem proporcionadas. A interação com o meio e o convívio com seus pares trazem benefícios a ambas as partes: as pessoas com deficiência que terão a chance de conviver em sociedade e aos demais envolvidos no processo de inclusão, que perceberão nessas pessoas a humanidade, os sentimentos e as possibilidades de serem integrados ao meio e de crescimento pessoal.
O princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças deveriam aprender juntas, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que possam ter. As escolas inclusivas devem reconhecer e responder às diversas dificuldades de seus alunos, acomodando tantos estilos como ritmos diferentes de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos por meio de currículo apropriado, modificações organizacionais, estratégia de ensino, uso de recursos e parceria com a comunidade [...] Dentro das escolas inclusivas, as crianças com necessidades educativas especiais deveriam receber qualquer apoio extra que possam precisar, para que lhes assegure uma educação efetiva.  (UNESCO, 1994, p.61).
A escola é importante para todos os seres humanos uma vez que promove a convivência em grupo, educando todos para a tolerância e o respeito. Valores estes importantes e indispensáveis para uma vida harmoniosa em sociedade.
Como não me canso de dizer, ensinar atendendo às diferenças dos alunos, mas sem diferenciar o ensino para cada um, depende entre outras condições, de se abandonar um ensino transmissivo e de se adotar uma pedagogia ativa, dialógica, interativa, integradora, que se contrapõe a toda e qualquer visão unidirecional, de transferência unitária, individualizada e hierárquica do saber. (MANTOAN, 2003, p.70-71).
            A orientação educacional realiza uma importante função, função essa que torna-se responsável pelo sucesso/insucesso dos desafios enfrentados em relação à inclusão dos alunos com deficiência na escola regular. Sabemos que todos são responsáveis na escola, porém é o orientador que desvela, opina, escuta, fundamenta, orienta e leva à reflexão/ação neste processo. Isto significa que a orientação educacional tece toda a rede de conhecimentos do processo de aprender. E só existe aprendizagem quando existe a aceitação das diferenças.
A orientação educacional no Brasil nem sempre aconteceu de forma sistemática na escola. A função começa a ser pensada em 30 de janeiro de 1942 na Lei Orgânica do Ensino Industrial e no Decreto Lei nº 4244 de 04 de abril de 1942 que estabelece as diretrizes para a orientação educacional como função de encaminhar os alunos nos estudos e na escolha da profissão, sempre em entendimento com sua família. Porém, em seu artigo 50, a orientação educacional é concebida como um processo de adaptação do sujeito ao meio, visando os problemas dos alunos e os desvios que perturbam a vida da escola.
Com o passar dos anos, o orientador educacional continuou a dirigir sua atenção ao aluno “irregular”, tendo que, corrigir, encaminhar, isto é, adaptar o aluno a rotina da escola, ao invés de dirigir a sua ação ao processo integral de desenvolvimento da atividade educativa. Desta forma, se efetivava as intenções do Decreto Lei nº 4073/42 que reduz as funções da orientação educacional.
Em dezembro de 1968, em Brasília, foi aprovada a Lei nº 5564 que provê sobre o exercício da profissão do orientador educacional. A promulgação da Lei em 21 de dezembro de 1968 significou um avanço na definição e profissionalização do Orientador Educacional.
Até a década de 70, em todo nosso país, a orientação educacional se apoiou num referencial basicamente psicológico reforçando a ideologia de aptidões.
          Com a Lei 5692/71, a orientação educacional passa a ser obrigatória no Ensino de 1º e 2º graus, para atender o objetivo de “qualificação para o trabalho” e de “sondagem de aptidões”. O artigo 10 refere-se: “Será instituída obrigatoriedade a Orientação Educacional nas escolas, incluindo Aconselhamento Vocacional, em cooperação com os professores, a família e a comunidade”.
A partir das determinações desta lei, a orientação educacional desenvolve a sua prática nas escolas, baseada no autoconhecimento, nas relações pessoais, sondagem de aptidões e interesses, informações sobre as profissões e mercado de trabalho.
As técnicas de aconselhamento, entrevistas, aplicação de testes, inventário de interesses, sociogramas, atendimentos a problemas disciplinares pautam a ação cotidiana do orientador educacional.
Portanto, em 26 de setembro de 1973, é assinado o Decreto nº 72.846 regulamentando a Lei nº 5.564, de 21 de dezembro de 1968 que provê sobre o exercício da profissão de orientador educacional.
O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 81, item III da Constituição, decreta:
Art. 1º - Constitui o objeto da Orientação Educacional a assistência ao educando, individualmente ou em grupo, no âmbito do ensino de 1º e 2º graus, visando o desenvolvimento integral e harmonioso de sua personalidade, ordenando e integrando os elementos que exercem influência em sua formação e preparando-o para o exercício das opções básicas.
Art. 2º - O exercício da profissão de Orientador Educacional é privativo:
I – Dos licenciados em Pedagogia, habilitados em Orientação Educacional, possuidores de diplomas expedidos por estabelecimentos de ensino superior oficiais ou reconhecidos.
II – Dos portadores de diplomas ou certificados de Orientador Educacional obtidos em cursos de pós-graduação, ministrados por estabelecimentos oficiais ou reconhecidos, devidamente credenciados pelo Conselho Federal de Educação.
III – Dos diplomados em Orientação Educacional por escolas estrangeiras, cujos títulos sejam revalidados na forma da lei em vigor.
Art. 3º - É assegurado ainda o direito de exercer a profissão de Orientador Educacional:
I – Aos formandos que tenham ingressado no curso antes da vigência da Lei nº 5692/71, na forma do art. 63, da Lei nº 4024, de 20 de setembro de 1961, até a 4ª série do ensino de 1º e 2º graus.
II – Aos formandos que tenham ingressado no curso antes da vigência da Lei nº 5692/71, na forma do art. 64, da Lei 4024, de 20 de setembro de 1961, até a 4ª série do ensino de 1º grau.
Art. 4º - Os profissionais de que tratam os artigos anteriores, somente poderão exercer a profissão após satisfazer os seguintes requisitos:
I - Registro dos diplomas ou certificados no Ministério da Educação e Cultura.
II - Registro profissional no órgão competente do Ministério da Educação e Cultura.
Art. 5º - A profissão de Orientador Educacional, observadas as condições previstas neste regulamento, se exerce, na órbita pública ou privada, por meio de planejamento, coordenação, supervisão, execução, aconselhamento e acompanhamento relativo às atividades de Orientação Educacional, bem como por meio de estudos, pesquisas, análises, pareceres compreendidos no seu campo profissional.
           Art. 6º - Os documentos referentes ao campo de ação profissional de que trata o artigo anterior só terão validade quando assinados por Orientador Educacional, devidamente registrado na forma desse regulamento.
Art. 7º - É obrigatório à citação do número de registro de Orientação Educacional em todos os documentos que levam sua assinatura.
Art. 8º - São atribuições privativas do Orientador Educacional:
a) Planejar e coordenar a implantação e funcionamento do Serviço de Orientação Educacional em Escola-Comunidade.
b) Planejar e coordenar a implantação do Serviço de Orientação Educacional dos órgãos do Serviço Público Federal, Estadual, Municipal e Autárquico; das Sociedades de Economia Mista, Empresas Estatais, Paraestatais e Privadas.
c) Coordenar a orientação vocacional do educando, incorporando-o ao processo educativo global.
d) Coordenar o processo de sondagem de interesses, aptidões e habilidades do educando.
e) Coordenar o processo de informação profissional e educacional com vistas à orientação vocacional.
f) Sistematizar o processo de intercâmbio das informações necessárias ao conhecimento global do educando.
g) Sistematizar o processo de acompanhamento dos alunos, encaminhando a outros especialistas aqueles que exigirem assistência especial.
h) Coordenar o acompanhamento pós-escolar.
i) Ministrar disciplinas de Teoria e Prática da Orientação Educacional, satisfeitas as exigências da legislação específica de ensino.
j) Supervisionar estágios na área da Orientação Educacional.
k) Emitir pareceres sobre matéria concernente à Orientação Educacional.
Art. 9º - Competem, ainda, ao Orientador Educacional as seguintes atribuições:
a) Participar no processo de identificação das características básicas da comunidade.
b) Participar no processo de caracterização da clientela escolar.
c) Participar no processo de elaboração do currículo pleno da escola.
d) Participar na composição, caracterização e acompanhamento de turmas e grupos.
e) Participar do processo de avaliação e recuperação dos alunos.
f) Participar do processo de encaminhamento e acompanhamento dos alunos estagiários.
g) Participar no processo de integração escola-família-comunidade.
h) Realizar estudos e pesquisas na área da OE.
Art. 10º - No preenchimento de cargos públicos, para os quais se faz mister qualificação de Orientador Educacional, requer-se, como condição essencial, que os candidatos hajam satisfeito, previamente, as exigências da Lei nº 5564, de 21 de dezembro de 1968 e deste regulamento.
Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. (D.O. U. de 27/09/1973)
A orientação educacional enquanto prática transformadora, busca o trabalho conjunto com todos os profissionais que possam contribuir para o desenvolvimento das propostas pedagógicas enriquecedoras, estimulando uma aprendizagem eficiente.
O orientador educacional mostra-se como um especialista nas relações existentes dentro da escola. Então, cabe a ele, buscar elementos vigentes na realidade do aluno para discutir, refletir, analisar e propor junto à equipe escolar ações que contribuam positivamente para o processo de ensino aprendizagem.
Tendo em vista a importância da participação dos pais e alunos nesse processo, segundo Garcia (2001), nesta discussão, os alunos, bem como seus pais, também poderão participar, já que são partes do processo. Ela afirma a relevância de se trabalhar os conteúdos curriculares contextualizados com a realidade dos alunos. Quanto mais os conhecimentos do currículo se aproximam da vida cotidiana, as chances de interesse do aluno e sucesso na aprendizagem são maiores. Isto porque os assuntos elencados dirão respeito a um mundo que lhe é familiar, condição essa para que possa avançar e compreender outros mundos.
O trabalho do orientador educacional deve ser em conjunto com a equipe escolar, com os professores buscando metodologias adequadas que respondam a diversidade, sem deixar de lado os conteúdos e o conhecimento científico do saber.
Quando o trabalho da orientação educacional junta-se a investigação da situação e a solução prática e inclusiva, possibilita o encontro entre o conhecimento formal e os conhecimentos produzidos na sociedade, o resultado irá construir um novo conhecimento que terá forte influência na aprendizagem do indivíduo, por meio da ideologia que lhe é transmitida pelos métodos e técnicas utilizadas pelo orientador educacional. 
Este profissional quando leva para o ambiente escolar a realidade do aluno para ser trabalhada de maneira contextualizada e interligada com o currículo, contribui para a promoção deste sujeito e o desenvolvimento de sua aprendizagem de forma global, uma vez que a orientação na escola não existe para padronizar ou corrigir os alunos nos conceitos escolhidos como adequados, “o importante é a singularidade dentro do coletivo”. (GRISPUN, 2003, P.29)
     A partir das colocações elencadas em relação ao papel do orientador educacional, é válido destacar alguns objetivos importantes e necessários para o desempenho dessa função:
·       Investigar os desafios e perspectivas a fim de promover a inclusão na escola de maneira plena.
·       Analisar a importância do papel do orientador educacional no serviço de apoio escolar em questões referentes à inclusão.
·       Abrir caminho para reflexões sobre a formação continuada, auxiliando os professores nas questões que tangem a educação inclusiva, dando suporte necessário, visto que ele é um dos agentes viabilizadores da tarefa fundamental da inclusão escolar e da aprendizagem dos alunos.
Sabe-se que a maior contribuição da escola, para a pessoa com deficiência é a socialização, pois o ambiente escolar e o convívio com outras pessoas são sempre muito estimulantes e com imprevistos, cooperando significativamente para o seu desenvolvimento global.
A integração, realizada nas devidas condições e recursos necessários, é positiva para os alunos com deficiência, contribui para o seu melhor desenvolvimento e para uma socialização mais completa e normal. Além disso, a integração também é benéfica para o resto dos alunos, já que aprendem com uma metodologia mais individualizada, dispõe de mais recursos e adquirem atitudes de respeito e solidariedade em relação a seus colegas menos dotados. (COLL, 1995, p.14).
Em muitas escolas, devido a inúmeros fatores, a teoria ainda se dissocia da prática quando se fala em inclusão. Por esse motivo, o papel do orientador educacional é fundamental neste processo, buscando melhores alternativas para se trabalhar com a educação inclusiva. Assim sendo, o orientador é prioritário para o desenrolar do processo de inclusão, uma vez que está diretamente ligado à interação entre aluno e professor, trabalhando projetos pedagógicos sobre a inclusão através da formação continuada do professor, para que este, esteja mais preparado para mediar às situações de conflito e de aprendizagem presentes na escola.                                                     
Portanto, o orientador educacional deve estar comprometido com o seu fazer, não omitindo ou restringindo de seu papel diante dos desafios encontrados no processo de inclusão, estando sempre numa contínua relação com o trabalho conjunto com alunos e professores para avançar no que diz respeito à inclusão, evitando práticas excludentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Criar sensibilidade para a inclusão é uma tarefa exigente, mas possível como é o próprio ato de aprender, de conhecer e de viver. A escola inclusiva, para propor uma educação inclusiva, precisa de profissionais que oportunizem a cada participante do processo o desafio do pensar.
O orientador educacional, nesse contexto, deve ser capaz de despertar em cada sujeito o prazer do pensar e do refletir, objetivando a vivência com as diferenças, com o diálogo e com o conhecimento. A escola inclusiva precisa de um orientador que saiba que cada aluno tem o que dizer, e que ele é capaz de dizê-lo e, melhor ainda, que será ouvido.
            A jornada escolar é cheia de vida, e cada vida é diferente, cada um com seu ritmo, suas percepções do outro e do mundo. É um movimento de “desordem”, de desestabilidade e de desvios, estes abrem espaço para a transformação, para a mudança, para o crescimento e o amadurecimento do sujeito com um ser pensante, reflexivo e atuante.
            Este artigo abordou a inclusão na educação, um assunto polêmico e que há pouco tempo está presente nas escolas. Concluiu-se que as dificuldades em relação a esse tema são grandes, tanto para a escola (direção, orientação, professores e famílias) quanto para os alunos. A realidade atual é problemática, alunos com diferentes problemas, salas de aula com um grande número de alunos e o professor precisa realizar seu trabalho com qualidade, muitas vezes, sem a mediação da orientação educacional.
            O processo de inclusão requer um trabalho sério e comprometido por parte de toda a comunidade escolar. As iniciativas individuais, constatadas em muitas falas: “dou atendimento individualizado. Busco os alunos [...] Proponho atividades especiais [...] Eu faço atividades diferenciadas”. Essas iniciativas particulares são importantes, mas insuficientes para que exista a educação inclusiva. O comprometimento coletivo, mediado pela orientação educacional, fará com que a inclusão seja vivenciada desenvolvendo uma educação voltada para a diversidade.
            Portanto, a participação do orientador educacional no processo de inclusão é essencial para buscar elementos vigentes da realidade do aluno, para discutir e refletir junto à equipe escolar (professores, diretores, supervisores e famílias) a fim de contribuir no processo de ensino aprendizagem de todos.
A escola inclusiva tem por objetivo promover o acesso, a permanência e a aprendizagem dos alunos com deficiência na rede regular de ensino, de forma eficaz e humana. Portanto, cabe, também, ao orientador educacional propor projetos pedagógicos sobre a inclusão com a comunidade escolar, para que esta compreenda o processo inclusivo. E, como agente formador, necessita trabalhar diretamente com os alunos na questão de mudanças conceituais, na forma de encarar as situações de conflito encontradas nas salas de aula, a fim de reverter os problemas em prol daquele que estiver sendo excluído do contexto escolar.
 Portanto, o orientador educacional deve estar comprometido com o seu papel frente aos desafios encontrados no processo de inclusão escolar, através de um trabalho contínuo e conjunto com a coordenação pedagógica, alunos e pais a fim de evitar práticas excludentes.

REFERÊNCIAS

BATISTA, C. A. M. Educação Inclusiva: atendimento educacional especializado para deficientes. Brasília; MEC,SEESP, 2005.
COLL, C. ET al. Desenvolvimento psicológico e educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
BRASIL. Decreto Nº 72.826 de 26 de setembro de 1973.Brasilia. 993
GARCIA, Regina. Orientação educacional: conflito de paradigmas e alternativas para a escola. São Paulo, Cortez, 2001.deficiência mental. Brasília: MEC, SEESP, 2006.
GRISPUN, Mirian. A prática dos orientadores educacionais. São Paulo, Cortez, 2001
IMBERNÓN, F. (Org.). A Educação no Século XXI. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
LASZLO, R. Conexão cósmica. Petrópolis, RJ.: Vozes, 1999.
LÜCK, Heloisa. Planejamento em Orientação educacional. 6ª ed. Petrópolis: Vozes. 1992.
MANTOAN, M.T.E. Inclusão Escolar – O que é? Por quê? Como fazer? 1. Ed. São Paulo: Moderna, 2003.
MORIN, E. O método II: a vida da vida. 2º Ed. Portugal: Publicações Europa-América, 1989.
_________. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 3.ed. SP: UNESCO, 2001.
SEVERINO, A. J. RJ: Lucerna, 2002.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

O ORIENTADOR EDUCACIONAL E SEU DESEMPENHO JUNTO A FAMILIA E ESCOLA NA SUPERAÇÃO DE DIFICULDADES DE CRIANÇAS QUE APRESENTAM COMPORTAMENTO HIPERATIVO

Narcia Trevizan Mistura[1]
Nilva Michelon[2]

RESUMO

Parece não existir na sociedade atual quem ainda não tenha ouvido falar de “hiperatividade”. Também conhecida como Transtorno de Déficit de Atenção Hiperatividade – TDAH, ela se refere àquelas crianças que são inquietas, impulsivas e indisciplinadas, apresentando um comportamento que interfere em seu relacionamento e prejudica o sua aprendizagem. Para que estes comportamentos não sejam avaliados de forma empírica e inexata, e para que essas crianças sejam acompanhadas e, posteriormente, encaminhadas para um tratamento profissional especializado é que entra em cena o Orientador Educacional, o profissional cuja formação é a mais adequada para orientar pais e professores sobre transtorno e sobre a forma de com ele conviver, ouvindo, dialogando e servindo de ponte entre uns e outros, sempre tendo em vista o bem estar da criança. Assim, este artigo buscou apontar o papel do Orientador Educacional junto aos pais e professores de crianças que apresentam TDAH, destacando-o como essencial na mediação entre família e escola e para o sucesso educativo no atendimento a elas, tendo como metodologia desta pesquisa um estudo bibliográfico.

Palavras-chave: Hiperatividade. Déficit de Atenção. Família. Escola. Orientador Educacional.

INTRODUÇÃO


O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade é o distúrbio mais comum na infância, que traz como consequências diversos distúrbios emocionais e sociais. Na escola, este distúrbio interfere diretamente na aprendizagem e nas relações escolares, originando uma série de problemas nem sempre de fácil solução. Por este motivo, a hiperatividade tem sido motivo de preocupação dos gestores escolares, dos professores e dos pais, que buscam saber mais sobre o transtorno a fim de poder ajudar as crianças que dele sofrem.
Pelo que se pode observar na escola, o comportamento da criança hiperativa traz transtornos para a família, dificultando o relacionamento entre seus membros e levando ao estresse. Existe grande dificuldade na educação dessa criança, além das dificuldades sociais e escolares. Muitas vezes acontecem maus tratos emocionais por parte dos pais e também dos professores, que não sabem como lidar com as manifestações do transtorno. Por vezes, a criança é discriminada e excluída.
Infelizmente, muitas vezes, tanto pais como professores, por desinformação e falta de orientação, tendem ou a minimizar, ou a superestimar os sintomas deste transtorno, notadamente quando a criança alcança os anos finais do ensino fundamental.  Os alunos acabam por ser caracterizados por avaliações pedagógicas equivocadas, isoladas, e que colaboram para ampliar um comportamento que origina fracassos.
Neste cenário, percebe-se que há a necessidade de um olhar mais profissional para este transtorno dentro da escola. Tanto professores como pais precisam ser orientados e ajudados na observação e avaliação criteriosa da criança, a fim de detectar se ela apresenta sintomas característicos do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Assim, este artigo busca abordar a atuação do Orientador Educacional junto a pais e professores destas crianças, e como o mesmo pode auxiliá-los a enfrentar este transtorno.
            Carvalho (2009) aponta que o Orientador exerce três atividades dentro da escola, a existencial, a terapêutica e a de recuperação, sendo que esta última é voltada aos alunos com problemas de aprendizagem e suas causas, que devem ser pesquisadas.
            Na tentativa de clarificar o papel do Orientador Educacional, de modo principal junto a pais e professores de alunos que apresentam TDAH, e de aprofundar e clarear o que seja este tema, sem a pretensão de esgotá-lo, o presente artigo tem o objetivo de, através da pesquisa e leitura das ideias expressas por vários autores, tanto em livros como na rede social Internet, ampliar a compreensão sobre a Hiperatividade e sobre o papel do Orientador Educacional na relação com pais e professores de educandos que apresentem este transtorno, no sentido de orientá-los sobre como agir a fim de poder oferecer a estas crianças o melhor tratamento possível.
Sabe-se que o diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é exclusividade clínica, mas acredita-se que o papel do Orientador é de vital importância no momento de observar e detectar este comportamento na escola e, acima de tudo, orientar pais e professores sobre formas de lidar com ele e de oportunizar ás crianças o tratamento adequado.
Lembra-se que as ideias apresentadas neste artigo não esgotam o tema e buscaram colaborar com sua compreensão, principalmente junto aos Orientadores Educacionais, a fim de que possam oferecer suporte melhor para pais e professores que convivem com estas crianças.

2. CONCEITUANDO O TDAH

            O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, conhecido pela sigla TDHA, é o transtorno mais comum na infância, um distúrbio neurocomportamental com manifestações características, que se destaca pelos distúrbios emocionais e dissociais de aprendizagem e aproveitamento.
            Pode-se assim conceituar o transtorno:
Os sintomas principais desse transtorno são uma combinação de desatenção, impulsividade e hiperatividade, que desde muito cedo já estão presentes na vida da criança, mas que se tornam mais evidentes na idade escolar. Esses sintomas afetam a aprendizagem familiar, a conduta, a autoestima, as habilidades sociais e o funcionamento (CONDEMARÍN, GOROSTEGUI E MILICIC, 2006, p.25).
 Mesmo sendo um problema bastante comum na infância, muitos pais não sabem identificá-lo, acontecendo o mesmo com muitos professores, quando a criança chega à escola. Este desconhecimento acaba, por vezes, levando professores e pais a administrar de forma errada comportamentos indevidos, agravando o problema e excluindo a criança da convivência escolar e social. Assim, destaca-se a importância da orientação:
No âmbito familiar deve realizar-se: a) psicoeducação, dando apoio e informação [...] b) psicoterapia para os pais dirigida a melhorar as técnicas de socialização. No âmbito escolar, é preciso manter contato com o professor, fornecendo-lhe as informações, e construir em conjunto com ele e com a equipe pedagógica pautas de manejo da criança dentro da sala de aula. O trabalho conjunto com a escola e o lar [...] é aceito e recomendado por todas as perspectivas  em que é possível abordar o tema de crianças com transtorno do déficit de atenção (CONDEMARÍN, GOROSTEGUI E MILICIC , 2006, p.25).
Conforme Rohde e Benczik, “o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade é um problema de saúde mental e tem três características básicas: a desatenção, a agitação (ou hiperatividade) e a impulsividade” (ROHDE; BENCZIK, 1999, p.37). Tal afirmativa é corroborada por Prado:
Os estudos sobre TDAH indicam a presença de disfunção, na região orbital  frontal do cérebro, caracterizada pela alteração no funcionamento de neurotransmissores nessa área. A região orbital frontal cerebral é uma das mais desenvolvidas no ser humano e responsável pela inibição do comportamento e autocontrole, controle da atenção, e planejamento futuro. Isso explica as características encontradas no portador de TDAH: desatenção, hiperatividade e impulsividade (PRADO et. al. s.d.).
            Conforme Boynton e Boynton (2008, p. 149), “os sintomas do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade envolvem distração, dificuldade de ouvir, dificuldade de se concentrar numa tarefa, de seguir instruções, de controlar os materiais e as tarefas, e baixa resistência às frustrações, o que leva a criança a se deixar dominar pelas emoções”. É por isso que na escola essas crianças podem ter baixo rendimento, frustrando-se e não acompanhando a classe. Assim, as intervenções dos educadores são muito necessárias e importantes para evitar esse tipo de situação.
Förster e Fernández (2003 apud CONDEMARIN, GOROSTEGUI e MILICIC, 2006) definem a hiperatividade integrando várias perspectivas teóricas: neurológica, psicológica, psicopedagógica e escolar. E definem o transtorno como:
Um transtorno de conduta crônica e com um substrato biológico muito importante, mas não devido a uma única causa, com uma forte base genética, e formada por um grupo heterogêneo de crianças. Inclui crianças com inteligência normal, ou  muito próximo do normal, que apresentam dificuldades significativas para adequar seu comportamento e/ou aprendizagem à norma esperada para sua idade (CONDEMARIN, GOROSTEGUI e MILICIC, 2006, p.25).
            Prado (et al, s.d.) destaca que a causa mais aceita para a hiperatividade é uma vulnerabilidade hereditária que se manifestará de acordo com as interações da criança e com o ambiente físico, afetivo, social e cultural. Ela lembra que os estudos sobre o transtorno indicam uma disfunção na região orbital frontal do cérebro, responsável pela inibição de comportamentos, pelo autocontrole, controle da atenção e planejamento futuro, o que explica as características apontadas anteriormente em quem sofre do transtorno.
            Sobre a questão da genética, diversas investigações têm sido feitas. Condemarin, Gorostegui e Milicic (2006) relatam que o risco é muito maior em crianças cujos pais tiveram ou têm o transtorno, e que outros estudos demonstram que pais e outros familiares que têm vínculos biológicos com crianças hiperativas são significativamente mais propensos a ter uma história de TDAH em sua infância e juventude.
            As crianças com hiperatividade apresentam sintomas quer podem ser observados tanto por seus pais como por seus educadores. Estes sintomas podem estar relacionados à desatenção e à agitação e impulsividade e foram descritos por Rohde e Benczik.

SINTOMAS DE DESATENÇÃO
SINTOMAS DE AGITAÇÃO E  IMPULSIVIDADE
1.    Não prestar atenção a detalhes;
2.    Cometer erros por descuido;
3.    Dificuldades em concentrar-se;
4.    Falta de atenção;
5.    Dificuldade em seguir regras e instruções
6.    Não terminar o que começou;
7.    Ser desorganizado;
8.    Evitar esforço mental continuado;
9.    Perder coisas importantes;
10.  Distrair-se facilmente/ esquecer compromissos e tarefas.
1.    Remexer mãos e pés;
2.    Não ficar sentado;
3.    Pular e correr excessivamente;
4.    Sensação interna de inquietude;
5.    Ser barulhento;
6.    Ser muito agitado constantemente;
7.    Falar demais;
8.    Responder antes de terminar a pergunta;
9.    Ter dificuldades de esperar;
10.  Intrometer-se na atividade alheia.
Elaborado pela autora com base em Rohde e Benczik  (1999, p.39-40).
            Observa-se que são sintomas fáceis de observar e detectar. No entanto, é preciso muito cuidado, pois pesquisas têm mostrado que é necessário uma criança apresentar, no mínimo, seis sintomas de um ou de outro para que se possa pensar na possibilidade de ela ter o transtorno. Por isso, a informação é extremamente importante no momento dessa observação.
Mackenzie (1996 apud BOYNTON e BOYNTON, 2008) afirma que para estabelecer o diagnóstico do transtorno são necessários testes médicos, psicológicos, comportamentais e acadêmicos, realizados por especialistas através de vários instrumentos. Portanto, não cabe aos pais, muito menos à escola, diagnosticar o transtorno. O que cabe é orientar pais e professores para que atentem para os sintomas, sobre as melhores formas para observá-los, a fim de, de posse de dados importantes, poder encaminhar a criança para o profissional adequado para dela  tratar.

3 A ATUAÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL JUNTO A PAIS E PROFESSORES DE CRIANÇAS COM TDAH

            Sabe-se que, nos últimos anos, muitas crianças e jovens têm sido diagnosticados com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e que a maioria destes diagnósticos aconteceram pela ação da escola, uma vez que ela disponibiliza um espaço intermediário entre a família e a sociedade, no qual estas crianças e estes jovens expõem suas emoções e comportamentos que ali podem ser melhor detectados e  avaliados. Por este motivo, compreender e informar as pessoas, no caso pais e professores, sobre o que é este transtorno e como ele pode influenciar a vida familiar, social e escolar do indivíduo é a melhor forma para entender e aprender a conviver com quem é hiperativo, evitando traumas e sofrimentos inúteis.
            É neste cenário que entra a atuação do Orientador Educacional, o profissional que tem o papel de fazer uma escuta cuidadosa das relações que se estabelecem na escola, entre pais, alunos e professores, e também de ser observador atento do comportamento dos alunos, com eles dialogando, questionando e fazendo mediação.
            Em recente reportagem, a Revista Nova Escola assim destacou a atividade do Orientador Educacional:
Na instituição escolar, o orientador educacional é um dos profissionais da equipe de gestão. Ele trabalha diretamente com os alunos, ajudando-os em seu desenvolvimento pessoal; em parceria com os professores, para compreender o comportamento dos estudantes e agir de maneira adequada em relação a eles; com a escola, na organização e realização da proposta pedagógica; e com a comunidade, orientando, ouvindo e dialogando com pais e responsáveis.[3]
Percebe-se que o Orientador Educacional é um mediador entre a escola e a família, acompanhando várias instâncias do trabalho pedagógico e contatando diretamente com atores de todos os espaços escolares. E uma de suas principais atividades é atender e orientar pais e alunos.
Goldstein (2006) destaca que existem alguns procedimentos multidisciplinares a serem desenvolvidos para enfrentar o TDAH, ou seja, um treinamento para os pais sobre o que é o transtorno e sobre estratégias para controlá-lo, o desenvolvimento de um programa pedagógico adequado, o aconselhamento familiar e individual e, finalmente, o uso de medicamentos. Pode-se dizer que nos dois primeiros procedimentos esta implícita a atuação do Orientador Educacional, uma vez que ele é o elo entre a escola e a família.

3.1 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E OS PAIS DE CRIANÇAS COM TDAH

            Quando se fala em criança que apresenta transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, normalmente se fala também em relacionamento familiar difícil e desgastante, resultado do comportamento infantil desregrado, excessivamente agitado, resistente, exposto a perigos e sem limites. E, normalmente, esse comportamento se repete na escola, os pais são chamados, e muitos atritos vão surgindo.
Os pais e/ou cuidadores [...] sentem-se desgastados pela necessidade de monitorar frequentemente a criança ou adolescente com TDAH; fator que pode acarretar discussões familiares, acusações, agressões e ressentimentos (Mattos, 2001). Estudos realizados com pais destas crianças indicam que estes sentem maior insatisfação com seus papéis parentais. As mães têm vulnerabilidade aumentada para depressão e há maior consumo familiar de álcool em função do estresse (FARAONE E COLS., 1995; PODOLSKI & NIGG, 2001) (DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007)
Percebe-se que o TDAH pode desestruturar o ambiente familiar, e que devido a isso é muito necessário que a criança seja diagnosticada e tratada com urgência. Mas, antes disso, é preciso detectar comportamentos, observá-los e discuti-los, a fim de poder encaminha a criança ao profissional que pode ajudá-la. 
Para observar e avaliar o comportamento de um aluno é preciso, antes, conhecer-se o histórico da criança, envolvendo fatores pré e pós-natais, alterações do sono, dificuldades e alterações de comportamento... E essas informações devem ser buscadas com os pais.
O atendimento de crianças e de adolescentes implica, quase que invariavelmente, em um contato com a família ou cuidadores. Mesmo quando membros da família não estão fisicamente presentes, sua influência sobre a criança ou adolescente é inegável. A saúde da criança está relacionada às características físicas, sociais e emocionais dos pais, bem como às práticas parentais empregadas na educação, manejo de problemas, enfrentamento do estresse e cuidados com os filhos (American Academy of Pediatrics, 2003)( DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007).
            Percebe-se, pelas palavras das autoras, a grande importância do contato do Orientador com a família, a fim de saber fatos da vida da criança ou jovem que tem comportamento atípico. A partir daí, o Orientador Educacional apontará às famílias o procedimento a ser feito junto á criança, ressaltando a importância da persistência e da união dos pais no sentido de observar e lidar com o comportamento do filho. Ainda, o Orientador deve alertá-los para a importância de se informarem sobre o transtorno, para, assim, estarem mais preparados para lidar com ele de forma adequada. Estas informações poderão ser repassadas aos pais pelo próprio orientador. 
Goldstein (2006) apresenta algumas estratégias que podem auxiliar os pais nesta tarefa:
1. Aprender o que é TDAH;
2. Saber separar o que é incapacidade de compreensão de rebeldia;
3. Dar sempre ordens positivas;
4. Saber recompensar;
5. Escolher o que discutir, reforçando sempre o positivo;
6. Usar técnicas de punição e recompensa;
7. Planejar as ações a serem desenvolvidas e as regras a serem seguidas;
8. Punir comportamentos declaradamente desobedientes;
9. Procurar relacionar-se bem com a criança, aumentando pontos fortes e diminuindo pontos fracos.
Os pais podem ser orientados, também, no sentido de observar alterações de conduta, medos e ansiedades demonstrados pela criança, condutas antissociais e inquietude, por exemplo. E certamente, existem outras estratégias que poderão ser indicadas pelo orientador.  Mas, o importante é manter este canal de diálogo com os pais, auxiliando, trocando informações e procurando sempre valorizar a criança, levando-os a compreender que o transtorno é uma patologia e, como tal, necessita de tratamento. Lembrando sempre que “a orientação aos pais ou cuidadores de crianças ou adolescentes com TDAH é um processo educativo [...]  Isso significa compreender e respeitar o tempo individual de cada pessoa durante a orientação (DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007).

3.2 O Orientador Educacional e os Professores de Crianças com TADH

            Carvalho (2009) aponta que o Orientador exerce três atividades dentro da escola:  a existencial, a terapêutica e a de recuperação, sendo que esta última é voltada aos alunos com problemas de aprendizagem e suas causas. Assim, quando se pensa em uma  escola preocupada com a aprendizagem, também se pensa em uma  escola capaz de  conhecer seus alunos e suas necessidades.
            Infelizmente, nem sempre é assim. Muitas vezes, alguns profissionais da educação não têm conhecimentos sobre alguns fatores que interferem no dia a dia da escola, como comportamentos atípicos que interferem na convivência escolar e, principalmente, na aprendizagem. Um destes fatores é, com certeza, o transtorno de déficit de atenção e aprendizagem, uma vez que muitos professores não sabem lidar com alunos que apresentam o problema e acabam rotulando-os e ampliando as dificuldades de relacionamento e aprendizagem que apresentam.
            Cumpre destacar que isso é comum porque toda e qualquer criança, em dado momento, apresenta comportamentos impulsivos e desatentos. Porém, nas crianças com o transtorno eles são permanentes e o professor deve ter conhecimento disso. Tanto que Desidério e Miyazaki destacam:
Os principais obstáculos para implementar estratégias comportamentais em sala de aula são o tempo do professor e a sua atitude em relação às estratégias. Primeiramente o professor deverá conhecer o transtorno e diferenciá-lo de má-educação ou preguiça. Além disso, este deverá ter disponibilidade para equilibrar as necessidades das outras crianças com a atenção requisitada por uma criança TDAH. É importante que o professor perceba a criança com TDAH como uma pessoa que tem potencial que poderá ou não se desenvolver, e reconheça sua responsabilidade sobre o resultado final desse processo. O professor ideal terá mais equilíbrio e criatividade para criar alternativas e avaliar quais obtiveram melhor funcionamento prático (DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007).
Pode-se inferir, então, que o Orientador Educacional terá que reunir os professores e indicar quais estratégias serão mais eficientes para poder observar certos comportamentos e com eles lidar em sala de aula. “O conhecimento por parte do professor, do tipo de problemas específicos subjacentes ao distúrbio de hiperatividade é condição necessária para que se proporcione a resposta adequada às necessidades da criança” (COLL, 1995, p.164).
Goldstein (2006) destaca alguns aspectos que podem orientar o professor para melhor observar e avaliar crianças com TDAH em sala de aula:
1. Uma sala de aula organizada e estruturada, com regras claras, programas previsíveis e carteiras separadas;
2. Prêmios coerentes e frequentes;
3. Programa de reforço constante;
4. Avaliação frequente e imediata;
5 Ignorar pequenas interrupções e acidentes;
6. Material didático adequado à habilidade da criança;
7. Estratégias cognitivas que favoreçam a autocorreção;
8. Tarefas variadas;
9. Horários de transição supervisionados;
10. Comunicação frequente com os pais.
O orientador ainda precisa fazer o professor entender o papel fundamental que desempenha junto a essas crianças e que, devido a isso, precisa ter o máximo de informações sobre o transtorno. Não é sua tarefa diagnosticar o TDAH, mas ele pode observar, questionar, solicitar apoio e informar o serviço de Orientação quando detectar algum comportamento atípico e constante. Assim,
Na escola, é preciso que os professores conheçam algo sobre TDAH, para não criar barreiras em relação ao aluno e, assim, equilibrar a dedicação dada aos demais em sala de aula com certa atenção maior àquele aluno em particular. Sentar próximo à professora, turmas pequenas (ideal com menos de 20/sala), sala com o menor grau de detalhes que possam dispersar a atenção do aluno, permissão especial para ter mais tempo a fim de completar tarefas sem punições, ou tarefas menos longas (aumentar gradualmente), são algumas sugestões (ARAÚJO, 2002, p.108).
Desidério e Miyazaki (2007) também lembram que  lidar com uma criança com TDAH em sala de aula é tarefa difícil e complexa, e que nesta ação a personalidade do professor tem papel preponderante, principalmente se o professor for alguém  extrovertido, dinâmico e entusiasta, pois isto influencia positivamente na relação professor-aluno.
O Orientador Educacional, por sua formação, pode agir junto a crianças com o transtorno identificando características individuais, idade, condições ambientais e outros, sempre contando com a informação dos pais e dos professores. Assim, ele poderá dialogar com o professor sobre o comportamento e as dificuldades da criança e, de posse dos dados obtidos, ele terá condições de dialogar com os profissionais habilitados e solicitar o encaminhamento da criança que necessitar, pois “remover barreiras à aprendizagem pressupõe conhecer as características do processo de aprender, bem como as características do aprendiz (o que não deve ser confundido com diagnóstico)” (CARVALHO, 1999, p.61).
Pode-se afirmar que a escola necessita aprimorar seu corpo docente através de informações precisas e de um apoio no fazer diário junto às crianças. O Orientador Educacional pode atuar junto aos professores neste sentido, oferecendo subsídios, indicando leituras, reunindo os professores para discutir sobre o transtorno, informando, discutindo e dirimindo medos e dúvidas dos docentes quanto à melhor forma de lidar com essa criança, pois “quem trabalha com crianças, quer seja educador ou terapeuta teria de ser capaz de arriscar-se a ir além de seus próprios modelos ou clichês para compreender a infância” (LEVIN, 2001, p.17).
Cabe ao Orientador  Educacional  reunir os professores para uma ação conjunta em favor da criança que apresenta o transtorno. Como destaca Peter Senge,
Um objetivo compartilhado, ou comum, não é uma ideia, mas uma força inculcada no coração das pessoas, uma força de poder impressionante. Pode ser inspirado por uma ideia, mas assim que ganha impulso – se tiver força suficiente para atrair mais de uma pessoa – deixa de ser uma abstração, transformando-se em algo concreto [...] Poucas forças nas relações humanas têm o poder de um objetivo que é de todos (apud ACÚRCIO, 2004, p.43).
            Como destacado anteriormente, o Orientador será a “ponte” de comunicação entre pais e professores em benefício das crianças que apresentam o transtorno. É preciso diálogo, aconchego e compartilhamento das estratégias a serem seguidas e, nesse aspecto, a intervenção do Orientador Educacional é essencial. Cabe-lhe ser observador e acompanhar e auxiliar pais e professores na atuação com essas crianças; não lhe cabe um diagnóstico sobre o transtorno, e sim, encaminhar, caso seja necessário, as crianças para os profissionais capacitados para que ela seja atendida da melhor forma possível.

CONSUDERAÇÕES FINAIS

            Pelo que foi visto neste estudo, conclui-se que o papel do orientador educacional é de extrema importância junto a pais e professores de crianças que apresentam Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, uma vez que é ele o construtor das relações que se estabelecem entre pais e professores, buscando auxiliar as crianças portadoras de TDAH.
O Serviço de Orientação Educacional surge, no espaço escolar, como a “´ponte” capaz de unir pais e professores em um mesmo objetivo, qual seja o de acompanhar e observar comportamentos que possam caracterizar o transtorno. Para isso, o Orientador deverá orientar pais e professores, oferecendo-lhes subsídios, conhecimentos e estratégias que lhes deem suporte para que possam acompanhar as crianças e identificar os comportamentos que caracterizam o TDAH. Numa tarefa conjunta com pais e professores, ele reunirá elementos para encaminhar estas crianças para um tratamento profissional especializado, favorecendo sua convivência familiar e escolar, sua socialização e sua aprendizagem.
Outro aspecto a destacar é o de que no caso das crianças com TDAH acontecem duas dificuldades: a primeira refere-se ao prejuízo à aprendizagem e, a segunda, às interações sociais com colegas, o que torna sua estada na escola um grande desafio. É aqui que entra o trabalho do Orientador, oferecendo o suporte necessário para que os professores possam intervir e agir com segurança e conhecimento, favorecendo o surgimento de relações saudáveis e produtivas.
Mais uma vez quer se enfatizar que não é de competência do Orientador Educacional diagnosticar transtornos, mas, por sua formação, ele tem respaldo para indicar caminhos para reconhecê-los.. Cabe-lhe utilizar estratégias diversas para oportunizar maior conhecimento do TDAH, sendo o administrador de relações saudáveis dentro da escola e colaborador de avaliações com embasamento teórico científico sobre crianças que têm o transtorno.
REFERÊNCIAS

ACÚRCIO, Marina Rodrigues Borges.  A Gestão da Escola. Porto Alegre/Belo Horizonte: Artmed/Rede Pitágoras, 2004.
ARAÚJO, Alexandra Prufer de Queiroz Campos. Avaliação e Manejo da Criança com Dificuldade Escolar e Distúrbio de Atenção. Jornal de Pediatria - Vol. 78, Supl.1 , 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jped/v78s1/v78n7a13.pdf. Acesso em 30 Out. 2013.
BOYNTON, Mark. BOYNTON, Christine. Prevenção e Resolução de Problemas Disciplinares. Guia para Educadores. Trad. Ana Paula Pereira Breda. Porto Alegre: Artmed, 2008.
CARVALHO, Rosita Edler. Removendo Barreiras para a Aprendizagem In: Salto para o Futuro: Educação Especial: tendências atuais. Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 1999.
COLL, Cezar et al. Desenvolvimento Psicológico e Educação: Necessidades Educativa Especiais e Aprendizagem Escolar.  Porto Alegre: Artes Médicas, 1995
CONDEMARIN, Mabel. GOROSTEGUI, Maria Elena. MILICIC, Neva. Transtorno de Déficit de Atenção: estratégias para o diagnóstico e intervenção psicoeducativa. Trad: Magda Lopes. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2006.
DESIDÉRIO, Rosimeire C. S. MIYAZAKI, Maria Cristina de O. S. Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH): orientações para a família. Psicol. esc. educ. v.11 n.1 Campinas jun. 2007. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1413-85572007000100018&script=sci_arttext&tlng=es Acesso em 02 Nov. 2013.
GOLDSTEIN, Sam. Compreensão, Avaliação e Atuação: Uma Visão Geral sobre o TDAH. 2006. Disponível em: http://www.hiperatividade.com.br/print.php?sid=14. Acesso em 27 out. 2013.
LEVIN, Esteban. A Função do Filho: espelhos e labirintos da infância. Trad. Ricardo Rosenbusch. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
PRADO, Aparecida Falchete do. et al. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade em  Pré-escolares. Disponível em  http://www.unijales.edu.br/unijales/arquivos/28022012095621_242.pdf. Acesso em 25 Agos. 2013.
ROHDE, Luiz Augusto P. BENCZIK, Edyleine B.P. Transtorno de Déficit de Atenção Hiperatividade. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.






[1] Graduada em Licenciatura em História e pós-graduanda em Orientação Escolar pela FASFI, Faculdade São Fidelis. E-mail: narciamistura@gmail.com
[2] Especialista em Administração e Orientação Educacional, Tecnologias da informação e da Comunicação no Processo de Aprendizagem e Mídias na Educação. Docente e Orientadora da FASFI. E-mail: nilvamichelon@yahoo.com.br


[3] Quem é o e que faz o orientador educacional. Reportagem da revista Nova escola. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/orientador-educacional/orientador-educacional-424364.shtml Acesso em 31 Out. 2013.