sexta-feira, 8 de maio de 2015

O ORIENTADOR EDUCACIONAL E SEU DESEMPENHO JUNTO A FAMILIA E ESCOLA NA SUPERAÇÃO DE DIFICULDADES DE CRIANÇAS QUE APRESENTAM COMPORTAMENTO HIPERATIVO

Narcia Trevizan Mistura[1]
Nilva Michelon[2]

RESUMO

Parece não existir na sociedade atual quem ainda não tenha ouvido falar de “hiperatividade”. Também conhecida como Transtorno de Déficit de Atenção Hiperatividade – TDAH, ela se refere àquelas crianças que são inquietas, impulsivas e indisciplinadas, apresentando um comportamento que interfere em seu relacionamento e prejudica o sua aprendizagem. Para que estes comportamentos não sejam avaliados de forma empírica e inexata, e para que essas crianças sejam acompanhadas e, posteriormente, encaminhadas para um tratamento profissional especializado é que entra em cena o Orientador Educacional, o profissional cuja formação é a mais adequada para orientar pais e professores sobre transtorno e sobre a forma de com ele conviver, ouvindo, dialogando e servindo de ponte entre uns e outros, sempre tendo em vista o bem estar da criança. Assim, este artigo buscou apontar o papel do Orientador Educacional junto aos pais e professores de crianças que apresentam TDAH, destacando-o como essencial na mediação entre família e escola e para o sucesso educativo no atendimento a elas, tendo como metodologia desta pesquisa um estudo bibliográfico.

Palavras-chave: Hiperatividade. Déficit de Atenção. Família. Escola. Orientador Educacional.

INTRODUÇÃO


O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade é o distúrbio mais comum na infância, que traz como consequências diversos distúrbios emocionais e sociais. Na escola, este distúrbio interfere diretamente na aprendizagem e nas relações escolares, originando uma série de problemas nem sempre de fácil solução. Por este motivo, a hiperatividade tem sido motivo de preocupação dos gestores escolares, dos professores e dos pais, que buscam saber mais sobre o transtorno a fim de poder ajudar as crianças que dele sofrem.
Pelo que se pode observar na escola, o comportamento da criança hiperativa traz transtornos para a família, dificultando o relacionamento entre seus membros e levando ao estresse. Existe grande dificuldade na educação dessa criança, além das dificuldades sociais e escolares. Muitas vezes acontecem maus tratos emocionais por parte dos pais e também dos professores, que não sabem como lidar com as manifestações do transtorno. Por vezes, a criança é discriminada e excluída.
Infelizmente, muitas vezes, tanto pais como professores, por desinformação e falta de orientação, tendem ou a minimizar, ou a superestimar os sintomas deste transtorno, notadamente quando a criança alcança os anos finais do ensino fundamental.  Os alunos acabam por ser caracterizados por avaliações pedagógicas equivocadas, isoladas, e que colaboram para ampliar um comportamento que origina fracassos.
Neste cenário, percebe-se que há a necessidade de um olhar mais profissional para este transtorno dentro da escola. Tanto professores como pais precisam ser orientados e ajudados na observação e avaliação criteriosa da criança, a fim de detectar se ela apresenta sintomas característicos do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Assim, este artigo busca abordar a atuação do Orientador Educacional junto a pais e professores destas crianças, e como o mesmo pode auxiliá-los a enfrentar este transtorno.
            Carvalho (2009) aponta que o Orientador exerce três atividades dentro da escola, a existencial, a terapêutica e a de recuperação, sendo que esta última é voltada aos alunos com problemas de aprendizagem e suas causas, que devem ser pesquisadas.
            Na tentativa de clarificar o papel do Orientador Educacional, de modo principal junto a pais e professores de alunos que apresentam TDAH, e de aprofundar e clarear o que seja este tema, sem a pretensão de esgotá-lo, o presente artigo tem o objetivo de, através da pesquisa e leitura das ideias expressas por vários autores, tanto em livros como na rede social Internet, ampliar a compreensão sobre a Hiperatividade e sobre o papel do Orientador Educacional na relação com pais e professores de educandos que apresentem este transtorno, no sentido de orientá-los sobre como agir a fim de poder oferecer a estas crianças o melhor tratamento possível.
Sabe-se que o diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é exclusividade clínica, mas acredita-se que o papel do Orientador é de vital importância no momento de observar e detectar este comportamento na escola e, acima de tudo, orientar pais e professores sobre formas de lidar com ele e de oportunizar ás crianças o tratamento adequado.
Lembra-se que as ideias apresentadas neste artigo não esgotam o tema e buscaram colaborar com sua compreensão, principalmente junto aos Orientadores Educacionais, a fim de que possam oferecer suporte melhor para pais e professores que convivem com estas crianças.

2. CONCEITUANDO O TDAH

            O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, conhecido pela sigla TDHA, é o transtorno mais comum na infância, um distúrbio neurocomportamental com manifestações características, que se destaca pelos distúrbios emocionais e dissociais de aprendizagem e aproveitamento.
            Pode-se assim conceituar o transtorno:
Os sintomas principais desse transtorno são uma combinação de desatenção, impulsividade e hiperatividade, que desde muito cedo já estão presentes na vida da criança, mas que se tornam mais evidentes na idade escolar. Esses sintomas afetam a aprendizagem familiar, a conduta, a autoestima, as habilidades sociais e o funcionamento (CONDEMARÍN, GOROSTEGUI E MILICIC, 2006, p.25).
 Mesmo sendo um problema bastante comum na infância, muitos pais não sabem identificá-lo, acontecendo o mesmo com muitos professores, quando a criança chega à escola. Este desconhecimento acaba, por vezes, levando professores e pais a administrar de forma errada comportamentos indevidos, agravando o problema e excluindo a criança da convivência escolar e social. Assim, destaca-se a importância da orientação:
No âmbito familiar deve realizar-se: a) psicoeducação, dando apoio e informação [...] b) psicoterapia para os pais dirigida a melhorar as técnicas de socialização. No âmbito escolar, é preciso manter contato com o professor, fornecendo-lhe as informações, e construir em conjunto com ele e com a equipe pedagógica pautas de manejo da criança dentro da sala de aula. O trabalho conjunto com a escola e o lar [...] é aceito e recomendado por todas as perspectivas  em que é possível abordar o tema de crianças com transtorno do déficit de atenção (CONDEMARÍN, GOROSTEGUI E MILICIC , 2006, p.25).
Conforme Rohde e Benczik, “o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade é um problema de saúde mental e tem três características básicas: a desatenção, a agitação (ou hiperatividade) e a impulsividade” (ROHDE; BENCZIK, 1999, p.37). Tal afirmativa é corroborada por Prado:
Os estudos sobre TDAH indicam a presença de disfunção, na região orbital  frontal do cérebro, caracterizada pela alteração no funcionamento de neurotransmissores nessa área. A região orbital frontal cerebral é uma das mais desenvolvidas no ser humano e responsável pela inibição do comportamento e autocontrole, controle da atenção, e planejamento futuro. Isso explica as características encontradas no portador de TDAH: desatenção, hiperatividade e impulsividade (PRADO et. al. s.d.).
            Conforme Boynton e Boynton (2008, p. 149), “os sintomas do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade envolvem distração, dificuldade de ouvir, dificuldade de se concentrar numa tarefa, de seguir instruções, de controlar os materiais e as tarefas, e baixa resistência às frustrações, o que leva a criança a se deixar dominar pelas emoções”. É por isso que na escola essas crianças podem ter baixo rendimento, frustrando-se e não acompanhando a classe. Assim, as intervenções dos educadores são muito necessárias e importantes para evitar esse tipo de situação.
Förster e Fernández (2003 apud CONDEMARIN, GOROSTEGUI e MILICIC, 2006) definem a hiperatividade integrando várias perspectivas teóricas: neurológica, psicológica, psicopedagógica e escolar. E definem o transtorno como:
Um transtorno de conduta crônica e com um substrato biológico muito importante, mas não devido a uma única causa, com uma forte base genética, e formada por um grupo heterogêneo de crianças. Inclui crianças com inteligência normal, ou  muito próximo do normal, que apresentam dificuldades significativas para adequar seu comportamento e/ou aprendizagem à norma esperada para sua idade (CONDEMARIN, GOROSTEGUI e MILICIC, 2006, p.25).
            Prado (et al, s.d.) destaca que a causa mais aceita para a hiperatividade é uma vulnerabilidade hereditária que se manifestará de acordo com as interações da criança e com o ambiente físico, afetivo, social e cultural. Ela lembra que os estudos sobre o transtorno indicam uma disfunção na região orbital frontal do cérebro, responsável pela inibição de comportamentos, pelo autocontrole, controle da atenção e planejamento futuro, o que explica as características apontadas anteriormente em quem sofre do transtorno.
            Sobre a questão da genética, diversas investigações têm sido feitas. Condemarin, Gorostegui e Milicic (2006) relatam que o risco é muito maior em crianças cujos pais tiveram ou têm o transtorno, e que outros estudos demonstram que pais e outros familiares que têm vínculos biológicos com crianças hiperativas são significativamente mais propensos a ter uma história de TDAH em sua infância e juventude.
            As crianças com hiperatividade apresentam sintomas quer podem ser observados tanto por seus pais como por seus educadores. Estes sintomas podem estar relacionados à desatenção e à agitação e impulsividade e foram descritos por Rohde e Benczik.

SINTOMAS DE DESATENÇÃO
SINTOMAS DE AGITAÇÃO E  IMPULSIVIDADE
1.    Não prestar atenção a detalhes;
2.    Cometer erros por descuido;
3.    Dificuldades em concentrar-se;
4.    Falta de atenção;
5.    Dificuldade em seguir regras e instruções
6.    Não terminar o que começou;
7.    Ser desorganizado;
8.    Evitar esforço mental continuado;
9.    Perder coisas importantes;
10.  Distrair-se facilmente/ esquecer compromissos e tarefas.
1.    Remexer mãos e pés;
2.    Não ficar sentado;
3.    Pular e correr excessivamente;
4.    Sensação interna de inquietude;
5.    Ser barulhento;
6.    Ser muito agitado constantemente;
7.    Falar demais;
8.    Responder antes de terminar a pergunta;
9.    Ter dificuldades de esperar;
10.  Intrometer-se na atividade alheia.
Elaborado pela autora com base em Rohde e Benczik  (1999, p.39-40).
            Observa-se que são sintomas fáceis de observar e detectar. No entanto, é preciso muito cuidado, pois pesquisas têm mostrado que é necessário uma criança apresentar, no mínimo, seis sintomas de um ou de outro para que se possa pensar na possibilidade de ela ter o transtorno. Por isso, a informação é extremamente importante no momento dessa observação.
Mackenzie (1996 apud BOYNTON e BOYNTON, 2008) afirma que para estabelecer o diagnóstico do transtorno são necessários testes médicos, psicológicos, comportamentais e acadêmicos, realizados por especialistas através de vários instrumentos. Portanto, não cabe aos pais, muito menos à escola, diagnosticar o transtorno. O que cabe é orientar pais e professores para que atentem para os sintomas, sobre as melhores formas para observá-los, a fim de, de posse de dados importantes, poder encaminhar a criança para o profissional adequado para dela  tratar.

3 A ATUAÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL JUNTO A PAIS E PROFESSORES DE CRIANÇAS COM TDAH

            Sabe-se que, nos últimos anos, muitas crianças e jovens têm sido diagnosticados com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e que a maioria destes diagnósticos aconteceram pela ação da escola, uma vez que ela disponibiliza um espaço intermediário entre a família e a sociedade, no qual estas crianças e estes jovens expõem suas emoções e comportamentos que ali podem ser melhor detectados e  avaliados. Por este motivo, compreender e informar as pessoas, no caso pais e professores, sobre o que é este transtorno e como ele pode influenciar a vida familiar, social e escolar do indivíduo é a melhor forma para entender e aprender a conviver com quem é hiperativo, evitando traumas e sofrimentos inúteis.
            É neste cenário que entra a atuação do Orientador Educacional, o profissional que tem o papel de fazer uma escuta cuidadosa das relações que se estabelecem na escola, entre pais, alunos e professores, e também de ser observador atento do comportamento dos alunos, com eles dialogando, questionando e fazendo mediação.
            Em recente reportagem, a Revista Nova Escola assim destacou a atividade do Orientador Educacional:
Na instituição escolar, o orientador educacional é um dos profissionais da equipe de gestão. Ele trabalha diretamente com os alunos, ajudando-os em seu desenvolvimento pessoal; em parceria com os professores, para compreender o comportamento dos estudantes e agir de maneira adequada em relação a eles; com a escola, na organização e realização da proposta pedagógica; e com a comunidade, orientando, ouvindo e dialogando com pais e responsáveis.[3]
Percebe-se que o Orientador Educacional é um mediador entre a escola e a família, acompanhando várias instâncias do trabalho pedagógico e contatando diretamente com atores de todos os espaços escolares. E uma de suas principais atividades é atender e orientar pais e alunos.
Goldstein (2006) destaca que existem alguns procedimentos multidisciplinares a serem desenvolvidos para enfrentar o TDAH, ou seja, um treinamento para os pais sobre o que é o transtorno e sobre estratégias para controlá-lo, o desenvolvimento de um programa pedagógico adequado, o aconselhamento familiar e individual e, finalmente, o uso de medicamentos. Pode-se dizer que nos dois primeiros procedimentos esta implícita a atuação do Orientador Educacional, uma vez que ele é o elo entre a escola e a família.

3.1 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E OS PAIS DE CRIANÇAS COM TDAH

            Quando se fala em criança que apresenta transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, normalmente se fala também em relacionamento familiar difícil e desgastante, resultado do comportamento infantil desregrado, excessivamente agitado, resistente, exposto a perigos e sem limites. E, normalmente, esse comportamento se repete na escola, os pais são chamados, e muitos atritos vão surgindo.
Os pais e/ou cuidadores [...] sentem-se desgastados pela necessidade de monitorar frequentemente a criança ou adolescente com TDAH; fator que pode acarretar discussões familiares, acusações, agressões e ressentimentos (Mattos, 2001). Estudos realizados com pais destas crianças indicam que estes sentem maior insatisfação com seus papéis parentais. As mães têm vulnerabilidade aumentada para depressão e há maior consumo familiar de álcool em função do estresse (FARAONE E COLS., 1995; PODOLSKI & NIGG, 2001) (DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007)
Percebe-se que o TDAH pode desestruturar o ambiente familiar, e que devido a isso é muito necessário que a criança seja diagnosticada e tratada com urgência. Mas, antes disso, é preciso detectar comportamentos, observá-los e discuti-los, a fim de poder encaminha a criança ao profissional que pode ajudá-la. 
Para observar e avaliar o comportamento de um aluno é preciso, antes, conhecer-se o histórico da criança, envolvendo fatores pré e pós-natais, alterações do sono, dificuldades e alterações de comportamento... E essas informações devem ser buscadas com os pais.
O atendimento de crianças e de adolescentes implica, quase que invariavelmente, em um contato com a família ou cuidadores. Mesmo quando membros da família não estão fisicamente presentes, sua influência sobre a criança ou adolescente é inegável. A saúde da criança está relacionada às características físicas, sociais e emocionais dos pais, bem como às práticas parentais empregadas na educação, manejo de problemas, enfrentamento do estresse e cuidados com os filhos (American Academy of Pediatrics, 2003)( DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007).
            Percebe-se, pelas palavras das autoras, a grande importância do contato do Orientador com a família, a fim de saber fatos da vida da criança ou jovem que tem comportamento atípico. A partir daí, o Orientador Educacional apontará às famílias o procedimento a ser feito junto á criança, ressaltando a importância da persistência e da união dos pais no sentido de observar e lidar com o comportamento do filho. Ainda, o Orientador deve alertá-los para a importância de se informarem sobre o transtorno, para, assim, estarem mais preparados para lidar com ele de forma adequada. Estas informações poderão ser repassadas aos pais pelo próprio orientador. 
Goldstein (2006) apresenta algumas estratégias que podem auxiliar os pais nesta tarefa:
1. Aprender o que é TDAH;
2. Saber separar o que é incapacidade de compreensão de rebeldia;
3. Dar sempre ordens positivas;
4. Saber recompensar;
5. Escolher o que discutir, reforçando sempre o positivo;
6. Usar técnicas de punição e recompensa;
7. Planejar as ações a serem desenvolvidas e as regras a serem seguidas;
8. Punir comportamentos declaradamente desobedientes;
9. Procurar relacionar-se bem com a criança, aumentando pontos fortes e diminuindo pontos fracos.
Os pais podem ser orientados, também, no sentido de observar alterações de conduta, medos e ansiedades demonstrados pela criança, condutas antissociais e inquietude, por exemplo. E certamente, existem outras estratégias que poderão ser indicadas pelo orientador.  Mas, o importante é manter este canal de diálogo com os pais, auxiliando, trocando informações e procurando sempre valorizar a criança, levando-os a compreender que o transtorno é uma patologia e, como tal, necessita de tratamento. Lembrando sempre que “a orientação aos pais ou cuidadores de crianças ou adolescentes com TDAH é um processo educativo [...]  Isso significa compreender e respeitar o tempo individual de cada pessoa durante a orientação (DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007).

3.2 O Orientador Educacional e os Professores de Crianças com TADH

            Carvalho (2009) aponta que o Orientador exerce três atividades dentro da escola:  a existencial, a terapêutica e a de recuperação, sendo que esta última é voltada aos alunos com problemas de aprendizagem e suas causas. Assim, quando se pensa em uma  escola preocupada com a aprendizagem, também se pensa em uma  escola capaz de  conhecer seus alunos e suas necessidades.
            Infelizmente, nem sempre é assim. Muitas vezes, alguns profissionais da educação não têm conhecimentos sobre alguns fatores que interferem no dia a dia da escola, como comportamentos atípicos que interferem na convivência escolar e, principalmente, na aprendizagem. Um destes fatores é, com certeza, o transtorno de déficit de atenção e aprendizagem, uma vez que muitos professores não sabem lidar com alunos que apresentam o problema e acabam rotulando-os e ampliando as dificuldades de relacionamento e aprendizagem que apresentam.
            Cumpre destacar que isso é comum porque toda e qualquer criança, em dado momento, apresenta comportamentos impulsivos e desatentos. Porém, nas crianças com o transtorno eles são permanentes e o professor deve ter conhecimento disso. Tanto que Desidério e Miyazaki destacam:
Os principais obstáculos para implementar estratégias comportamentais em sala de aula são o tempo do professor e a sua atitude em relação às estratégias. Primeiramente o professor deverá conhecer o transtorno e diferenciá-lo de má-educação ou preguiça. Além disso, este deverá ter disponibilidade para equilibrar as necessidades das outras crianças com a atenção requisitada por uma criança TDAH. É importante que o professor perceba a criança com TDAH como uma pessoa que tem potencial que poderá ou não se desenvolver, e reconheça sua responsabilidade sobre o resultado final desse processo. O professor ideal terá mais equilíbrio e criatividade para criar alternativas e avaliar quais obtiveram melhor funcionamento prático (DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007).
Pode-se inferir, então, que o Orientador Educacional terá que reunir os professores e indicar quais estratégias serão mais eficientes para poder observar certos comportamentos e com eles lidar em sala de aula. “O conhecimento por parte do professor, do tipo de problemas específicos subjacentes ao distúrbio de hiperatividade é condição necessária para que se proporcione a resposta adequada às necessidades da criança” (COLL, 1995, p.164).
Goldstein (2006) destaca alguns aspectos que podem orientar o professor para melhor observar e avaliar crianças com TDAH em sala de aula:
1. Uma sala de aula organizada e estruturada, com regras claras, programas previsíveis e carteiras separadas;
2. Prêmios coerentes e frequentes;
3. Programa de reforço constante;
4. Avaliação frequente e imediata;
5 Ignorar pequenas interrupções e acidentes;
6. Material didático adequado à habilidade da criança;
7. Estratégias cognitivas que favoreçam a autocorreção;
8. Tarefas variadas;
9. Horários de transição supervisionados;
10. Comunicação frequente com os pais.
O orientador ainda precisa fazer o professor entender o papel fundamental que desempenha junto a essas crianças e que, devido a isso, precisa ter o máximo de informações sobre o transtorno. Não é sua tarefa diagnosticar o TDAH, mas ele pode observar, questionar, solicitar apoio e informar o serviço de Orientação quando detectar algum comportamento atípico e constante. Assim,
Na escola, é preciso que os professores conheçam algo sobre TDAH, para não criar barreiras em relação ao aluno e, assim, equilibrar a dedicação dada aos demais em sala de aula com certa atenção maior àquele aluno em particular. Sentar próximo à professora, turmas pequenas (ideal com menos de 20/sala), sala com o menor grau de detalhes que possam dispersar a atenção do aluno, permissão especial para ter mais tempo a fim de completar tarefas sem punições, ou tarefas menos longas (aumentar gradualmente), são algumas sugestões (ARAÚJO, 2002, p.108).
Desidério e Miyazaki (2007) também lembram que  lidar com uma criança com TDAH em sala de aula é tarefa difícil e complexa, e que nesta ação a personalidade do professor tem papel preponderante, principalmente se o professor for alguém  extrovertido, dinâmico e entusiasta, pois isto influencia positivamente na relação professor-aluno.
O Orientador Educacional, por sua formação, pode agir junto a crianças com o transtorno identificando características individuais, idade, condições ambientais e outros, sempre contando com a informação dos pais e dos professores. Assim, ele poderá dialogar com o professor sobre o comportamento e as dificuldades da criança e, de posse dos dados obtidos, ele terá condições de dialogar com os profissionais habilitados e solicitar o encaminhamento da criança que necessitar, pois “remover barreiras à aprendizagem pressupõe conhecer as características do processo de aprender, bem como as características do aprendiz (o que não deve ser confundido com diagnóstico)” (CARVALHO, 1999, p.61).
Pode-se afirmar que a escola necessita aprimorar seu corpo docente através de informações precisas e de um apoio no fazer diário junto às crianças. O Orientador Educacional pode atuar junto aos professores neste sentido, oferecendo subsídios, indicando leituras, reunindo os professores para discutir sobre o transtorno, informando, discutindo e dirimindo medos e dúvidas dos docentes quanto à melhor forma de lidar com essa criança, pois “quem trabalha com crianças, quer seja educador ou terapeuta teria de ser capaz de arriscar-se a ir além de seus próprios modelos ou clichês para compreender a infância” (LEVIN, 2001, p.17).
Cabe ao Orientador  Educacional  reunir os professores para uma ação conjunta em favor da criança que apresenta o transtorno. Como destaca Peter Senge,
Um objetivo compartilhado, ou comum, não é uma ideia, mas uma força inculcada no coração das pessoas, uma força de poder impressionante. Pode ser inspirado por uma ideia, mas assim que ganha impulso – se tiver força suficiente para atrair mais de uma pessoa – deixa de ser uma abstração, transformando-se em algo concreto [...] Poucas forças nas relações humanas têm o poder de um objetivo que é de todos (apud ACÚRCIO, 2004, p.43).
            Como destacado anteriormente, o Orientador será a “ponte” de comunicação entre pais e professores em benefício das crianças que apresentam o transtorno. É preciso diálogo, aconchego e compartilhamento das estratégias a serem seguidas e, nesse aspecto, a intervenção do Orientador Educacional é essencial. Cabe-lhe ser observador e acompanhar e auxiliar pais e professores na atuação com essas crianças; não lhe cabe um diagnóstico sobre o transtorno, e sim, encaminhar, caso seja necessário, as crianças para os profissionais capacitados para que ela seja atendida da melhor forma possível.

CONSUDERAÇÕES FINAIS

            Pelo que foi visto neste estudo, conclui-se que o papel do orientador educacional é de extrema importância junto a pais e professores de crianças que apresentam Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, uma vez que é ele o construtor das relações que se estabelecem entre pais e professores, buscando auxiliar as crianças portadoras de TDAH.
O Serviço de Orientação Educacional surge, no espaço escolar, como a “´ponte” capaz de unir pais e professores em um mesmo objetivo, qual seja o de acompanhar e observar comportamentos que possam caracterizar o transtorno. Para isso, o Orientador deverá orientar pais e professores, oferecendo-lhes subsídios, conhecimentos e estratégias que lhes deem suporte para que possam acompanhar as crianças e identificar os comportamentos que caracterizam o TDAH. Numa tarefa conjunta com pais e professores, ele reunirá elementos para encaminhar estas crianças para um tratamento profissional especializado, favorecendo sua convivência familiar e escolar, sua socialização e sua aprendizagem.
Outro aspecto a destacar é o de que no caso das crianças com TDAH acontecem duas dificuldades: a primeira refere-se ao prejuízo à aprendizagem e, a segunda, às interações sociais com colegas, o que torna sua estada na escola um grande desafio. É aqui que entra o trabalho do Orientador, oferecendo o suporte necessário para que os professores possam intervir e agir com segurança e conhecimento, favorecendo o surgimento de relações saudáveis e produtivas.
Mais uma vez quer se enfatizar que não é de competência do Orientador Educacional diagnosticar transtornos, mas, por sua formação, ele tem respaldo para indicar caminhos para reconhecê-los.. Cabe-lhe utilizar estratégias diversas para oportunizar maior conhecimento do TDAH, sendo o administrador de relações saudáveis dentro da escola e colaborador de avaliações com embasamento teórico científico sobre crianças que têm o transtorno.
REFERÊNCIAS

ACÚRCIO, Marina Rodrigues Borges.  A Gestão da Escola. Porto Alegre/Belo Horizonte: Artmed/Rede Pitágoras, 2004.
ARAÚJO, Alexandra Prufer de Queiroz Campos. Avaliação e Manejo da Criança com Dificuldade Escolar e Distúrbio de Atenção. Jornal de Pediatria - Vol. 78, Supl.1 , 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jped/v78s1/v78n7a13.pdf. Acesso em 30 Out. 2013.
BOYNTON, Mark. BOYNTON, Christine. Prevenção e Resolução de Problemas Disciplinares. Guia para Educadores. Trad. Ana Paula Pereira Breda. Porto Alegre: Artmed, 2008.
CARVALHO, Rosita Edler. Removendo Barreiras para a Aprendizagem In: Salto para o Futuro: Educação Especial: tendências atuais. Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 1999.
COLL, Cezar et al. Desenvolvimento Psicológico e Educação: Necessidades Educativa Especiais e Aprendizagem Escolar.  Porto Alegre: Artes Médicas, 1995
CONDEMARIN, Mabel. GOROSTEGUI, Maria Elena. MILICIC, Neva. Transtorno de Déficit de Atenção: estratégias para o diagnóstico e intervenção psicoeducativa. Trad: Magda Lopes. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2006.
DESIDÉRIO, Rosimeire C. S. MIYAZAKI, Maria Cristina de O. S. Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH): orientações para a família. Psicol. esc. educ. v.11 n.1 Campinas jun. 2007. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1413-85572007000100018&script=sci_arttext&tlng=es Acesso em 02 Nov. 2013.
GOLDSTEIN, Sam. Compreensão, Avaliação e Atuação: Uma Visão Geral sobre o TDAH. 2006. Disponível em: http://www.hiperatividade.com.br/print.php?sid=14. Acesso em 27 out. 2013.
LEVIN, Esteban. A Função do Filho: espelhos e labirintos da infância. Trad. Ricardo Rosenbusch. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
PRADO, Aparecida Falchete do. et al. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade em  Pré-escolares. Disponível em  http://www.unijales.edu.br/unijales/arquivos/28022012095621_242.pdf. Acesso em 25 Agos. 2013.
ROHDE, Luiz Augusto P. BENCZIK, Edyleine B.P. Transtorno de Déficit de Atenção Hiperatividade. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.






[1] Graduada em Licenciatura em História e pós-graduanda em Orientação Escolar pela FASFI, Faculdade São Fidelis. E-mail: narciamistura@gmail.com
[2] Especialista em Administração e Orientação Educacional, Tecnologias da informação e da Comunicação no Processo de Aprendizagem e Mídias na Educação. Docente e Orientadora da FASFI. E-mail: nilvamichelon@yahoo.com.br


[3] Quem é o e que faz o orientador educacional. Reportagem da revista Nova escola. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/orientador-educacional/orientador-educacional-424364.shtml Acesso em 31 Out. 2013.