Narcia Trevizan Mistura[1]
Nilva Michelon[2]
RESUMO
Parece não existir na sociedade atual quem ainda não tenha ouvido falar
de “hiperatividade”. Também conhecida como Transtorno de Déficit de Atenção
Hiperatividade – TDAH, ela se refere àquelas crianças que são inquietas,
impulsivas e indisciplinadas, apresentando um comportamento que interfere em
seu relacionamento e prejudica o sua aprendizagem. Para que estes
comportamentos não sejam avaliados de forma empírica e inexata, e para que
essas crianças sejam acompanhadas e, posteriormente, encaminhadas para um
tratamento profissional especializado é que entra em cena o Orientador
Educacional, o profissional cuja formação é a mais adequada para orientar pais
e professores sobre transtorno e sobre a forma de com ele conviver, ouvindo,
dialogando e servindo de ponte entre uns e outros, sempre tendo em vista o bem estar
da criança. Assim, este artigo buscou apontar o papel do Orientador Educacional
junto aos pais e professores de crianças que apresentam TDAH, destacando-o como
essencial na mediação entre família e escola e para o sucesso educativo no
atendimento a elas, tendo como metodologia desta pesquisa um estudo
bibliográfico.
Palavras-chave:
Hiperatividade. Déficit de Atenção. Família. Escola. Orientador Educacional.
INTRODUÇÃO
O Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade é o distúrbio mais comum na infância, que traz como
consequências diversos distúrbios emocionais e sociais. Na escola, este
distúrbio interfere diretamente na aprendizagem e nas relações escolares,
originando uma série de problemas nem sempre de fácil solução. Por este motivo,
a hiperatividade tem sido motivo de preocupação dos gestores escolares, dos
professores e dos pais, que buscam saber mais sobre o transtorno a fim de poder
ajudar as crianças que dele sofrem.
Pelo que se pode observar na escola, o
comportamento da criança hiperativa traz transtornos para a família,
dificultando o relacionamento entre seus membros e levando ao estresse. Existe
grande dificuldade na educação dessa criança, além das dificuldades sociais e
escolares. Muitas vezes acontecem maus tratos emocionais por parte dos pais e
também dos professores, que não sabem como lidar com as manifestações do
transtorno. Por vezes, a criança é discriminada e excluída.
Infelizmente, muitas vezes, tanto pais como
professores, por desinformação e falta de orientação, tendem ou a minimizar, ou
a superestimar os sintomas deste transtorno, notadamente quando a criança
alcança os anos finais do ensino fundamental.
Os alunos acabam por ser caracterizados por avaliações pedagógicas
equivocadas, isoladas, e que colaboram para ampliar um comportamento que
origina fracassos.
Neste cenário, percebe-se que há a
necessidade de um olhar mais profissional para este transtorno dentro da
escola. Tanto professores como pais precisam ser orientados e ajudados na
observação e avaliação criteriosa da criança, a fim de detectar se ela
apresenta sintomas característicos do Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade. Assim, este artigo busca abordar a atuação do Orientador
Educacional junto a pais e professores destas crianças, e como o mesmo pode
auxiliá-los a enfrentar este transtorno.
Carvalho
(2009) aponta que o Orientador exerce três atividades dentro da escola, a
existencial, a terapêutica e a de recuperação, sendo que esta última é voltada
aos alunos com problemas de aprendizagem e suas causas, que devem ser
pesquisadas.
Na
tentativa de clarificar o papel do Orientador Educacional, de modo principal
junto a pais e professores de alunos que apresentam TDAH, e de aprofundar e
clarear o que seja este tema, sem a pretensão de esgotá-lo, o presente artigo
tem o objetivo de, através da pesquisa e leitura das ideias expressas por
vários autores, tanto em livros como na rede social Internet, ampliar a
compreensão sobre a Hiperatividade e sobre o papel do Orientador Educacional na
relação com pais e professores de educandos que apresentem este transtorno, no
sentido de orientá-los sobre como agir a fim de poder oferecer a estas crianças
o melhor tratamento possível.
Sabe-se que o diagnóstico do Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade é exclusividade clínica, mas acredita-se
que o papel do Orientador é de vital importância no momento de observar e
detectar este comportamento na escola e, acima de tudo, orientar pais e
professores sobre formas de lidar com ele e de oportunizar ás crianças o
tratamento adequado.
Lembra-se que as
ideias apresentadas neste artigo não esgotam o tema e buscaram colaborar com
sua compreensão, principalmente junto aos Orientadores Educacionais, a fim de
que possam oferecer suporte melhor para pais e professores que convivem com
estas crianças.
2.
CONCEITUANDO O TDAH
O
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, conhecido pela sigla TDHA, é o
transtorno mais comum na infância, um distúrbio neurocomportamental com
manifestações características, que se destaca pelos distúrbios emocionais e
dissociais de aprendizagem e aproveitamento.
Pode-se
assim conceituar o transtorno:
Os
sintomas principais desse transtorno são uma combinação de desatenção,
impulsividade e hiperatividade, que desde muito cedo já estão presentes na vida
da criança, mas que se tornam mais evidentes na idade escolar. Esses sintomas
afetam a aprendizagem familiar, a conduta, a autoestima, as habilidades sociais
e o funcionamento (CONDEMARÍN, GOROSTEGUI E MILICIC, 2006, p.25).
Mesmo sendo um problema bastante comum na
infância, muitos pais não sabem identificá-lo, acontecendo o mesmo com muitos
professores, quando a criança chega à escola. Este desconhecimento acaba, por
vezes, levando professores e pais a administrar de forma errada comportamentos
indevidos, agravando o problema e excluindo a criança da convivência escolar e
social. Assim, destaca-se a importância da orientação:
No
âmbito familiar deve realizar-se: a) psicoeducação, dando apoio e informação
[...] b) psicoterapia para os pais dirigida a melhorar as técnicas de
socialização. No âmbito escolar, é preciso manter contato com o professor,
fornecendo-lhe as informações, e construir em conjunto com ele e com a equipe
pedagógica pautas de manejo da criança dentro da sala de aula. O trabalho
conjunto com a escola e o lar [...] é aceito e recomendado por todas as
perspectivas em que é possível abordar o
tema de crianças com transtorno do déficit de atenção (CONDEMARÍN, GOROSTEGUI E
MILICIC , 2006, p.25).
Conforme Rohde e
Benczik, “o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade é um problema de
saúde mental e tem três características básicas: a desatenção, a agitação (ou
hiperatividade) e a impulsividade” (ROHDE; BENCZIK, 1999, p.37). Tal afirmativa
é corroborada por Prado:
Os
estudos sobre TDAH indicam a presença de disfunção, na região orbital frontal do cérebro, caracterizada pela
alteração no funcionamento de neurotransmissores nessa área. A região orbital
frontal cerebral é uma das mais desenvolvidas no ser humano e responsável pela
inibição do comportamento e autocontrole, controle da atenção, e planejamento
futuro. Isso explica as características encontradas no portador de TDAH:
desatenção, hiperatividade e impulsividade (PRADO et. al. s.d.).
Conforme Boynton e
Boynton (2008, p. 149), “os sintomas do transtorno de déficit de
atenção/hiperatividade envolvem distração, dificuldade de ouvir, dificuldade de
se concentrar numa tarefa, de seguir instruções, de controlar os materiais e as
tarefas, e baixa resistência às frustrações, o que leva a criança a se deixar
dominar pelas emoções”. É por isso que na escola essas crianças podem ter baixo
rendimento, frustrando-se e não acompanhando a classe. Assim, as intervenções
dos educadores são muito necessárias e importantes para evitar esse tipo de
situação.
Förster e Fernández
(2003 apud CONDEMARIN, GOROSTEGUI e MILICIC, 2006) definem a hiperatividade
integrando várias perspectivas teóricas: neurológica, psicológica,
psicopedagógica e escolar. E definem o transtorno como:
Um
transtorno de conduta crônica e com um substrato biológico muito importante,
mas não devido a uma única causa, com uma forte base genética, e formada por um
grupo heterogêneo de crianças. Inclui crianças com inteligência normal, ou muito próximo do normal, que apresentam
dificuldades significativas para adequar seu comportamento e/ou aprendizagem à
norma esperada para sua idade (CONDEMARIN, GOROSTEGUI e MILICIC, 2006, p.25).
Prado
(et al, s.d.) destaca que a causa mais aceita para a hiperatividade é uma
vulnerabilidade hereditária que
se manifestará de acordo com as interações da criança e com o ambiente físico,
afetivo, social e cultural. Ela lembra que os estudos sobre o transtorno
indicam uma disfunção na região orbital frontal do cérebro, responsável pela
inibição de comportamentos, pelo autocontrole, controle da atenção e
planejamento futuro, o que explica as características apontadas anteriormente
em quem sofre do transtorno.
Sobre a questão da
genética, diversas investigações têm sido feitas. Condemarin,
Gorostegui e Milicic (2006) relatam que o risco é muito maior em crianças cujos
pais tiveram ou têm o transtorno, e que outros estudos demonstram que pais e
outros familiares que têm vínculos biológicos com crianças hiperativas são
significativamente mais propensos a ter uma história de TDAH em sua infância e
juventude.
As crianças com
hiperatividade apresentam sintomas quer podem ser observados tanto por seus
pais como por seus educadores. Estes sintomas podem estar relacionados à
desatenção e à agitação e impulsividade e foram descritos por Rohde e Benczik.
SINTOMAS DE DESATENÇÃO
|
SINTOMAS DE AGITAÇÃO E IMPULSIVIDADE
|
1.
Não
prestar atenção a detalhes;
2.
Cometer
erros por descuido;
3.
Dificuldades
em concentrar-se;
4.
Falta
de atenção;
5.
Dificuldade
em seguir regras e instruções
6.
Não
terminar o que começou;
7.
Ser
desorganizado;
8.
Evitar
esforço mental continuado;
9.
Perder
coisas importantes;
10. Distrair-se
facilmente/ esquecer compromissos e tarefas.
|
1.
Remexer
mãos e pés;
2.
Não
ficar sentado;
3.
Pular
e correr excessivamente;
4.
Sensação
interna de inquietude;
5.
Ser
barulhento;
6.
Ser
muito agitado constantemente;
7.
Falar
demais;
8.
Responder
antes de terminar a pergunta;
9.
Ter
dificuldades de esperar;
10. Intrometer-se na atividade alheia.
|
Elaborado pela autora com base em Rohde e Benczik (1999, p.39-40).
Observa-se que são
sintomas fáceis de observar e detectar. No entanto, é preciso muito cuidado,
pois pesquisas têm mostrado que é necessário uma criança apresentar, no mínimo,
seis sintomas de um ou de outro para que se possa pensar na possibilidade de
ela ter o transtorno. Por isso, a informação é extremamente importante no
momento dessa observação.
Mackenzie (1996 apud BOYNTON e BOYNTON, 2008)
afirma que para estabelecer o diagnóstico do transtorno são necessários testes
médicos, psicológicos, comportamentais e acadêmicos, realizados por
especialistas através de vários instrumentos. Portanto, não cabe aos pais,
muito menos à escola, diagnosticar o transtorno. O que cabe é orientar pais e
professores para que atentem para os sintomas, sobre as melhores formas para
observá-los, a fim de, de posse de dados importantes, poder encaminhar a
criança para o profissional adequado para dela
tratar.
3 A ATUAÇÃO
DO ORIENTADOR EDUCACIONAL JUNTO A PAIS E PROFESSORES DE CRIANÇAS COM TDAH
Sabe-se que, nos últimos
anos, muitas crianças e jovens têm sido diagnosticados com o Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade e que a maioria destes diagnósticos
aconteceram pela ação da escola, uma vez que ela disponibiliza um espaço intermediário
entre a família e a sociedade, no qual estas crianças e estes jovens expõem
suas emoções e comportamentos que ali podem ser melhor detectados e avaliados. Por este motivo, compreender e
informar as pessoas, no caso pais e professores, sobre o que é este transtorno
e como ele pode influenciar a vida familiar, social e escolar do indivíduo é a
melhor forma para entender e aprender a conviver com quem é hiperativo,
evitando traumas e sofrimentos inúteis.
É neste cenário que
entra a atuação do Orientador Educacional, o profissional que tem o papel de
fazer uma escuta cuidadosa das relações que se estabelecem na escola, entre
pais, alunos e professores, e também de ser observador atento do comportamento
dos alunos, com eles dialogando, questionando e fazendo mediação.
Em recente reportagem, a
Revista Nova Escola assim destacou a atividade do Orientador Educacional:
Na instituição escolar, o orientador educacional é um dos
profissionais da equipe de gestão. Ele trabalha diretamente com os alunos, ajudando-os
em seu desenvolvimento pessoal; em parceria com os professores, para
compreender o comportamento dos estudantes e agir de maneira adequada em
relação a eles; com a escola, na organização e realização da proposta
pedagógica; e com a comunidade, orientando, ouvindo e dialogando com pais e
responsáveis.[3]
Percebe-se que o Orientador Educacional é um
mediador entre a escola e a família, acompanhando várias instâncias do trabalho
pedagógico e contatando diretamente com atores de todos os espaços escolares. E
uma de suas principais atividades é atender e orientar pais e alunos.
Goldstein (2006) destaca que existem alguns
procedimentos multidisciplinares a serem desenvolvidos para enfrentar o TDAH,
ou seja, um treinamento para os pais sobre o que é o transtorno e sobre
estratégias para controlá-lo, o desenvolvimento de um programa pedagógico
adequado, o aconselhamento familiar e individual e, finalmente, o uso de
medicamentos. Pode-se dizer que nos dois primeiros procedimentos esta implícita
a atuação do Orientador Educacional, uma vez que ele é o elo entre a escola e a
família.
3.1
O ORIENTADOR EDUCACIONAL E OS PAIS DE CRIANÇAS COM TDAH
Quando se fala em
criança que apresenta transtorno de déficit de atenção e hiperatividade,
normalmente se fala também em relacionamento familiar difícil e desgastante,
resultado do comportamento infantil desregrado, excessivamente agitado,
resistente, exposto a perigos e sem limites. E, normalmente, esse comportamento
se repete na escola, os pais são chamados, e muitos atritos vão surgindo.
Os pais e/ou cuidadores [...]
sentem-se desgastados pela necessidade de monitorar frequentemente a criança ou
adolescente com TDAH; fator que pode acarretar discussões familiares,
acusações, agressões e ressentimentos (Mattos, 2001). Estudos realizados com
pais destas crianças indicam que estes sentem maior insatisfação com seus
papéis parentais. As mães têm vulnerabilidade aumentada para depressão e há
maior consumo familiar de álcool em função do estresse (FARAONE E COLS., 1995;
PODOLSKI & NIGG, 2001) (DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007)
Percebe-se que o TDAH pode desestruturar o
ambiente familiar, e que devido a isso é muito necessário que a criança seja
diagnosticada e tratada com urgência. Mas, antes disso, é preciso detectar
comportamentos, observá-los e discuti-los, a fim de poder encaminha a criança
ao profissional que pode ajudá-la.
Para observar e avaliar o comportamento de um
aluno é preciso, antes, conhecer-se o histórico da criança, envolvendo fatores
pré e pós-natais, alterações do sono, dificuldades e alterações de
comportamento... E essas informações devem ser buscadas com os pais.
O atendimento de crianças e de
adolescentes implica, quase que invariavelmente, em um contato com a família ou
cuidadores. Mesmo quando membros da família não estão fisicamente presentes,
sua influência sobre a criança ou adolescente é inegável. A saúde da criança
está relacionada às características físicas, sociais e emocionais dos pais, bem
como às práticas parentais empregadas na educação, manejo de problemas,
enfrentamento do estresse e cuidados com os filhos (American Academy of
Pediatrics, 2003)( DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007).
Percebe-se, pelas palavras das
autoras, a grande importância do contato do Orientador com a família, a fim de
saber fatos da vida da criança ou jovem que tem comportamento atípico. A partir
daí, o Orientador Educacional apontará às famílias o procedimento a ser feito
junto á criança, ressaltando a importância da persistência e da união dos pais
no sentido de observar e lidar com o comportamento do filho. Ainda, o
Orientador deve alertá-los para a importância de se informarem sobre o
transtorno, para, assim, estarem mais preparados para lidar com ele de forma
adequada. Estas informações poderão ser repassadas aos pais pelo próprio
orientador.
Goldstein (2006) apresenta algumas estratégias que podem auxiliar os
pais nesta tarefa:
1. Aprender o que
é TDAH;
2. Saber separar o
que é incapacidade de compreensão de rebeldia;
3. Dar sempre
ordens positivas;
4. Saber
recompensar;
5. Escolher o que
discutir, reforçando sempre o positivo;
6. Usar técnicas
de punição e recompensa;
7. Planejar as
ações a serem desenvolvidas e as regras a serem seguidas;
8. Punir
comportamentos declaradamente desobedientes;
9. Procurar
relacionar-se bem com a criança, aumentando pontos fortes e diminuindo pontos
fracos.
Os pais podem ser orientados, também, no sentido de observar alterações
de conduta, medos e ansiedades demonstrados pela criança, condutas antissociais
e inquietude, por exemplo. E certamente, existem outras estratégias que poderão
ser indicadas pelo orientador. Mas, o
importante é manter este canal de diálogo com os pais, auxiliando, trocando
informações e procurando sempre valorizar a criança, levando-os a compreender
que o transtorno é uma patologia e, como tal, necessita de tratamento. Lembrando sempre que
“a orientação aos pais ou cuidadores de crianças ou adolescentes com TDAH é um
processo educativo [...] Isso significa
compreender e respeitar o tempo individual de cada pessoa durante a orientação (DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007).
3.2 O Orientador
Educacional e os Professores de Crianças com TADH
Carvalho
(2009) aponta que o Orientador exerce três atividades dentro da escola: a existencial, a terapêutica e a de
recuperação, sendo que esta última é voltada aos alunos com problemas de
aprendizagem e suas causas. Assim, quando se pensa em uma escola
preocupada com a aprendizagem, também se pensa em uma escola capaz de conhecer seus alunos e suas necessidades.
Infelizmente, nem sempre
é assim. Muitas vezes, alguns profissionais da educação não têm conhecimentos
sobre alguns fatores que interferem no dia a dia da escola, como comportamentos
atípicos que interferem na convivência escolar e, principalmente, na
aprendizagem. Um destes fatores é, com certeza, o transtorno de déficit de
atenção e aprendizagem, uma vez que muitos professores não sabem lidar com
alunos que apresentam o problema e acabam rotulando-os e ampliando as dificuldades
de relacionamento e aprendizagem que apresentam.
Cumpre destacar que isso
é comum porque toda e qualquer criança, em dado momento, apresenta
comportamentos impulsivos e desatentos. Porém, nas crianças com o transtorno
eles são permanentes e o professor deve ter conhecimento disso. Tanto que
Desidério e Miyazaki destacam:
Os
principais obstáculos para implementar estratégias comportamentais em sala de
aula são o tempo do professor e a sua atitude em relação às estratégias.
Primeiramente o professor deverá conhecer o transtorno e diferenciá-lo de
má-educação ou preguiça. Além disso, este deverá ter disponibilidade para
equilibrar as necessidades das outras crianças com a atenção requisitada por
uma criança TDAH. É importante que o professor perceba a criança com TDAH como
uma pessoa que tem potencial que poderá ou não se desenvolver, e reconheça sua
responsabilidade sobre o resultado final desse processo. O professor ideal terá
mais equilíbrio e criatividade para criar alternativas e avaliar quais obtiveram
melhor funcionamento prático (DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007).
Pode-se inferir, então, que o Orientador Educacional terá que reunir os
professores e indicar quais estratégias serão mais eficientes para poder
observar certos comportamentos e com eles lidar em sala de aula. “O conhecimento por
parte do professor, do tipo de problemas específicos subjacentes ao distúrbio
de hiperatividade é condição necessária para que se proporcione a resposta
adequada às necessidades da criança” (COLL, 1995, p.164).
Goldstein (2006)
destaca alguns aspectos que podem orientar o professor para melhor observar e
avaliar crianças com TDAH em sala de aula:
1. Uma sala de aula organizada e estruturada,
com regras claras, programas previsíveis e carteiras separadas;
2. Prêmios coerentes e frequentes;
3. Programa de reforço constante;
4. Avaliação frequente e imediata;
5 Ignorar pequenas interrupções e acidentes;
6. Material didático adequado à habilidade da
criança;
7. Estratégias cognitivas que favoreçam a
autocorreção;
8. Tarefas variadas;
9. Horários de transição supervisionados;
10. Comunicação frequente com os pais.
O
orientador ainda precisa fazer o professor entender o papel fundamental que
desempenha junto a essas crianças e que, devido a isso, precisa ter o máximo de
informações sobre o transtorno. Não é sua tarefa diagnosticar o TDAH, mas ele
pode observar, questionar, solicitar apoio e informar o serviço de Orientação
quando detectar algum comportamento atípico e constante. Assim,
Na escola, é preciso que os professores conheçam
algo sobre TDAH, para não criar barreiras em relação ao aluno e, assim,
equilibrar a dedicação dada aos demais em sala de aula com certa atenção maior
àquele aluno em particular. Sentar próximo à professora, turmas pequenas (ideal
com menos de 20/sala), sala com o menor grau de detalhes que possam dispersar a
atenção do aluno, permissão especial para ter mais tempo a fim de completar
tarefas sem punições, ou tarefas menos longas (aumentar gradualmente), são
algumas sugestões (ARAÚJO, 2002, p.108).
Desidério e Miyazaki (2007)
também lembram que lidar com uma criança
com TDAH em sala de aula é tarefa difícil e complexa, e que nesta ação a
personalidade do professor tem papel preponderante, principalmente se o professor
for alguém extrovertido, dinâmico e
entusiasta, pois isto influencia positivamente na relação professor-aluno.
O Orientador Educacional, por sua
formação, pode agir junto a crianças com o transtorno identificando
características individuais, idade, condições ambientais e outros, sempre
contando com a informação dos pais e dos professores. Assim, ele poderá
dialogar com o professor sobre o comportamento e as dificuldades da criança e,
de posse dos dados obtidos, ele terá condições de dialogar com os profissionais
habilitados e solicitar o encaminhamento da criança que necessitar, pois “remover barreiras à aprendizagem pressupõe conhecer as
características do processo de aprender, bem como as características do
aprendiz (o que não deve ser confundido com diagnóstico)” (CARVALHO, 1999, p.61).
Pode-se afirmar que a escola necessita
aprimorar seu corpo docente através de informações precisas e de um apoio no
fazer diário junto às crianças. O Orientador Educacional pode atuar junto aos
professores neste sentido, oferecendo subsídios, indicando leituras, reunindo
os professores para discutir sobre o transtorno, informando, discutindo e
dirimindo medos e dúvidas dos docentes quanto à melhor forma de lidar com essa
criança, pois “quem trabalha com crianças, quer seja educador ou terapeuta
teria de ser capaz de arriscar-se a ir além de seus próprios modelos ou clichês
para compreender a infância” (LEVIN, 2001, p.17).
Cabe ao Orientador Educacional
reunir os professores para uma ação conjunta em favor da criança que
apresenta o transtorno. Como destaca Peter Senge,
Um objetivo
compartilhado, ou comum, não é uma ideia, mas uma força inculcada no coração
das pessoas, uma força de poder impressionante. Pode ser inspirado por uma
ideia, mas assim que ganha impulso – se tiver força suficiente para atrair mais
de uma pessoa – deixa de ser uma abstração, transformando-se em algo concreto
[...] Poucas forças nas relações humanas têm o poder de um objetivo que é de
todos (apud ACÚRCIO, 2004, p.43).
Como
destacado anteriormente, o Orientador será a “ponte” de comunicação entre pais
e professores em benefício das crianças que apresentam o transtorno. É preciso
diálogo, aconchego e compartilhamento das estratégias a serem seguidas e, nesse
aspecto, a intervenção do Orientador Educacional é essencial. Cabe-lhe ser observador e
acompanhar e auxiliar pais e professores na atuação com essas crianças; não lhe
cabe um diagnóstico sobre o transtorno, e sim, encaminhar, caso seja
necessário, as crianças para os profissionais capacitados para que ela seja
atendida da melhor forma possível.
CONSUDERAÇÕES FINAIS
Pelo que foi visto neste estudo,
conclui-se que o papel do orientador educacional é de extrema importância junto
a pais e professores de crianças que apresentam Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade, uma vez que é ele o construtor das relações que se
estabelecem entre pais e professores, buscando auxiliar as crianças portadoras
de TDAH.
O Serviço de
Orientação Educacional surge, no espaço escolar, como a “´ponte” capaz de unir
pais e professores em um mesmo objetivo, qual seja o de acompanhar e observar
comportamentos que possam caracterizar o transtorno. Para isso, o Orientador
deverá orientar pais e professores, oferecendo-lhes subsídios, conhecimentos e
estratégias que lhes deem suporte para que possam acompanhar as crianças e identificar
os comportamentos que caracterizam o TDAH. Numa tarefa conjunta com pais e
professores, ele reunirá elementos para encaminhar estas crianças para um
tratamento profissional especializado, favorecendo sua convivência familiar e
escolar, sua socialização e sua aprendizagem.
Outro aspecto a
destacar é o de que no caso das crianças com TDAH acontecem duas dificuldades:
a primeira refere-se ao prejuízo à aprendizagem e, a segunda, às interações
sociais com colegas, o que torna sua estada na escola um grande desafio. É aqui
que entra o trabalho do Orientador, oferecendo o suporte necessário para que os
professores possam intervir e agir com segurança e conhecimento, favorecendo o
surgimento de relações saudáveis e produtivas.
Mais uma vez quer se
enfatizar que não é de competência do Orientador Educacional diagnosticar
transtornos, mas, por sua formação, ele tem respaldo para indicar caminhos para
reconhecê-los.. Cabe-lhe utilizar estratégias diversas para oportunizar maior
conhecimento do TDAH, sendo o administrador de relações saudáveis dentro da
escola e colaborador de avaliações com embasamento teórico científico sobre
crianças que têm o transtorno.
REFERÊNCIAS
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Borges. A Gestão da Escola. Porto Alegre/Belo
Horizonte: Artmed/Rede Pitágoras, 2004.
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Alexandra Prufer de Queiroz Campos. Avaliação e Manejo da Criança com Dificuldade
Escolar e Distúrbio de Atenção. Jornal de Pediatria - Vol. 78, Supl.1 , 2002.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jped/v78s1/v78n7a13.pdf. Acesso em 30 Out. 2013.
BOYNTON, Mark. BOYNTON,
Christine. Prevenção e Resolução de
Problemas Disciplinares. Guia para Educadores. Trad. Ana Paula Pereira
Breda. Porto Alegre: Artmed, 2008.
CARVALHO,
Rosita Edler. Removendo Barreiras para a Aprendizagem In: Salto para o Futuro: Educação Especial: tendências atuais.
Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação, SEED,
1999.
COLL,
Cezar et al. Desenvolvimento Psicológico
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Porto Alegre: Artes Médicas, 1995
CONDEMARIN, Mabel.
GOROSTEGUI, Maria Elena. MILICIC, Neva. Transtorno
de Déficit de Atenção: estratégias para o diagnóstico e intervenção
psicoeducativa. Trad: Magda Lopes. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2006.
DESIDÉRIO, Rosimeire C. S. MIYAZAKI, Maria Cristina
de O. S. Transtorno de Déficit de
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educ. v.11 n.1 Campinas jun. 2007. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1413-85572007000100018&script=sci_arttext&tlng=es Acesso em 02 Nov. 2013.
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LEVIN, Esteban. A Função do Filho: espelhos e
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PRADO, Aparecida Falchete do. et al. Transtorno de Déficit de Atenção e
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2013.
ROHDE,
Luiz Augusto P. BENCZIK, Edyleine B.P. Transtorno
de Déficit de Atenção Hiperatividade. Porto Alegre: Artes Médicas Sul,
1999.
[1] Graduada em Licenciatura
em História e pós-graduanda em Orientação Escolar pela FASFI, Faculdade São
Fidelis. E-mail: narciamistura@gmail.com
[2] Especialista em
Administração e Orientação Educacional, Tecnologias da informação e da
Comunicação no Processo de Aprendizagem e Mídias na Educação. Docente e
Orientadora da FASFI. E-mail: nilvamichelon@yahoo.com.br
[3] Quem é o e que faz o
orientador educacional. Reportagem da
revista Nova escola. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/orientador-educacional/orientador-educacional-424364.shtml Acesso em 31 Out.
2013.